Capítulo 40.


Aperto bem o único objeto preso em minhas mãos trêmulas, reação causada pelo momento em que eu a vi tão próxima a ele. Passo a acreditar que Justin, definitivamente, está arrependido pelo que aconteceu e que, apesar de todos os ocorridos, quer, mais do que ninguém, nossa vida de volta. E enquanto eu ando pelas calçadas acinzentadas e observo cada perímetro ser deixado para trás, sinto que perco algo. Perco aquela segurança que abrangi antes de deixar minha cama essa manhã, perco a razão e a predomino abaixo das dobras dos meus joelhos que tanto tremem por conta do nervosismo que me invade, me sufoca.
Ao me sentar no sofá, encaro os quatro cantos escuros do lugar, sinto meu cheiro se propagar com aquela lembrança que tenho da primeira vez que estive aqui com ele. Naquele dia, eu senti como se realmente tivesse uma família. A nossa.
Parcialmente cansada e confusa, encaro por alguns instantes o número por trás do visor manchado pelas marcas dos meus dedos.
"Eu sei que está um pouco tarde, mas eu preciso muito falar com você essa noite."
E alguns minutos depois, quando já me livrei do vestido de festa e da maquiagem excessiva, sua presença toma conta do local e eu me alegro por vê-lo sorrir no segundo em que nossos olhares se esbarram.
Paro as xícaras sobre mesinha central e, por alguns segundos, me perco em pensamentos fúteis, como me questionar o porquê de ela parecer tão desalinhada quanto agora.
— Fiquei preocupado com sua ligação. — assim que diz, Pierre beberica o chá quente que preparei há pouco tempo. A noite está fria, eu sinto como se quisesse algo para aquecer minha alma. — Aconteceu algo?
Com extrema vontade, balanço a cabeça. Não posso parar de olhar o chão que tem como camada confortante, um carpete veludo e de coloração neutra.
— Pierre! — falo para chamar sua atenção, embora eu saiba que, agora, seus olhos havanos encaram a expressão involuntária que meu rosto transfere. — Eu não sei como começar esse assunto.
— É sobre minha proposta? — subo minha face, eu o olho esperançosa, apesar do semblante desmanchado. Eu não consigo parar de pensar nos dois juntos. Eu queria que Justin tivesse largado tudo e vindo atrás de mim, me pedido para ficar até eu ceder e abraçar seu corpo, sentindo como se eu pudesse respirar meu último suspiro.
— Eu não posso ir com você. — finalmente respondo o que de fato ultrapassa minhas veias e segue na direção em que minhas memórias se localizam. — Eu estou grávida.
Como um movimento acelerado, Pierre move seu rosto e encara meu corpo, sem prestar depoimento quanto ao que eu disse, sentindo que isso é capaz de me degradar fisicamente e emocionalmente, não importa a maneira como sua voz posse fluir a partir do momento em que eu me focar no silêncio.
— Eu quero ser honesta com você, apesar de tudo. Porque, desde o início, você vem sendo uma pessoa incrível. Mas eu não posso fingir que está tudo bem, quando isso se trata mais sobre outras pessoas do que sobre mim. — ouço o barulho que a xícara faz ao se colidir com o pratinho por baixo, ambos em minhas mãos trêmulas, que realçam meu nervosismo. — Eu nunca consegui me afastar dele por completo, eu sempre me senti fraca ao ponto de me entregar quando...
Pierre se inclina e recolhe os objetos das minhas mãos. Eu o olho, pois percebo que isso o preocupa, que ele não quer que eu me entregue dessa maneira à vulnerabilidade, embora eu consiga sentir minha fraqueza escorrer pela lateral da minha face.
— Selena, você não precisa me falar sobre isso, se não quiser. — quando o ouço, de um jeito calmo e confortante, movo minha cabeça o bastante para demonstrar que preciso dizer tudo aquilo que eu quero que ele ouça.
— Me desculpe.
— Por que está se desculpando, meu bem? — sinto a espessura de seu dedo alcançar um local próximo ao meu olho esquerdo. Aquela lágrima escorre e se prende à pele dele. — Desde o começo, eu sabia que vocês tinham uma história e eu nunca tentei te fazer esquecer isso. — minha respiração volta ao normal, uma vez que antes aparentava escapar de maneira diferente. — Eu sempre quis que você gostasse de mim por vontade própria e não por você achar que é o certo, não por você querer esquecer alguém, mas sim por simplesmente gostar de mim. Ouça, eu adoro você, quero que seja feliz independente da sua escolha. E eu entendo, não vou julgá-la por isso e nem por nenhuma outra razão.
— Você fez e continua fazendo com que eu me sinta tão bem. — o rapaz solta uma risada nasal e pega minhas mãos, acariciando suas costas de modo que me acalma.
— Agora eu só acho que estarei solitário no voo para Paris. — seu semblante se torna sério, ele parece pensar um pouco, ainda que não suspeite dos meus pensamentos.
— Vocês homens são tão desligados, não acha? — locomoção de ideias faz com que Pierre arranque uma expressão confusa. — Tem alguém que esteve esperando por isso há bastante tempo. Ela sempre foi seu braço direito, estou certa?
— Taylor?! — movimento meus lábios num sorriso simples, em seguida, balanço as sobrancelhas.
Nós dois rimos, é como se contássemos segredos um para o outro, em tom baixo, talvez lendo ambas as mentes.
Então, após alguns minutos, nos levantamos. Sinto as mãos de Pierre serem repousadas em minha barriga pouco diferente do que estivera há algumas semanas. Ele encara meus olhos e um sorriso no rosto se intensifica quando penso no quão bom foi ter o conhecido.
— Justin é um cara de muita sorte. — seu sussurro faz com que meu estômago se revire, porém de um jeito bom, quase como se meu coração pudesse soltar pela boca. — Agora, eu preciso realmente ir.
— Eu vou só... — sem finalizar meu aviso, inclino meu corpo e recolho a bandeja prateada, por cima desta, existem as xícaras que usamos para usufruirmos do dócil e caloroso chá.
Assim que passo pelo corredor, aquele responsável por dividir a sala da cozinha larga, ouço batidas na porta, sem antes me dar a chance de observar a silhueta presa sobre o vidro por trás da madeira branca.
Largo tudo sobre a mesa, sentindo algo contagiar minha pele, algo feliz por ter tido uma conversa tão confortante quanto a que foi realizada segundos atrás. Meus passos estão rápidos pelo trajeto que dou em direção à porta em que Pierre se encontra à frente. Mas uma pontada superior é exposta em meu peito quando, enquanto meu sorriso se desfaz daquele semblante alegre que eu erguia, observo os olhos entristecidos de Justin. Ele reveza tamanha atenção entre mim e o rapaz pouco adiante, não muito distante de seu corpo ereto e fragilizado pela respiração de ira que se propaga pelo local.
— O que você faz aqui? — sinto como se essa fosse a segunda vez que ele questiona, pois Pierre mantém uma postura mais acentuada, sem se erguer ao fato de observar a mistura entre sentimentos hostis que Justin transborda.
— Foi bom te ver, Selena. — o moreno se vira um pouco e beija minha testa melada pelo suor de um nervosismo aparentemente explícito. — Nos vemos depois. Durma bem.
Sem esperar com que meus pensamentos saiam pela minha boca em forma de palavras concretas, Pierre curva seu corpo e segue em direção ao caro automóvel estacionado do outro lado da estrada. E não demora muito até que eu o veja desaparecer pela escuridão da noite, deixando o lugar ser preenchido pela decepção que os olhos dilatados de Justin carregam.
— Eu já entendi tudo. — ao dizer, o louro abaixa sua mão esquerda, a responsável por carregar um buquê de rosas brancas. Ele quase o larga, quase permite que todas aquelas pétalas caiam para que qualquer um pise por vontade própria. — Eu sou um idiota por vir até aqui, por pensar que você estaria me esperando.
— Não é o que você está pensando, Justin.
— Eu estou vendo. Aquele cara acabou de sair da nossa casa. O que estiveram fazendo aí durante todo esse tempo? Aliás, esse filho realmente é meu?
Sem pensar duas vezes, apoio todo o peso do meu corpo sobre uma de minhas mãos, repousando-a, com agressividade, num dos lados de seu rosto. Este é virado devido à brutalidade excessiva.
— Como você ousa me perguntar isso?
Justin dá alguns passos para trás e umedece seus lábios com a língua, quase em movimentos atrasados, lentos demais.
— Se a sua intenção era me magoar, parabéns, você realmente conseguiu. — o louro sussurra, mal conseguindo me olhar nos olhos.
Seu corpo se vira e eu começo a perceber seus passos rápidos demais em direção ao carro estacionado ao lado das latas de lixo. Eu o grito tão alto que sinto uma extrema dor abdominal, quase permitindo que minha fibra óssea caia no chão frio devido aos movimentos ágeis que faço quando corro atrás dele. E antes de adentrar em seu carro, Justin joga o buquê na lixeira, fazendo com que uma parte de mim se sinta naquele mesmo local preenchido por arrependimentos e decepções.
— Justin, me deixe explicar. Não aconteceu nada entre mim e ele. — eu digo a partir do momento em que bato as mãos sobre o vidro fechado. Ele encara o volante durante os segundos em que tenta ligar o veículo. — Por favor, me ouça. Não faça dessa forma. Não me deixe aqui sozinha.
— Se afaste do carro, Selena, eu não quero machucar você. — o louro responde, ainda pensando no que achou ter visto, sei disso, pois, de alguma maneira, ele olha para a estrada por trás do pára-brisas.
— Não vá embora, por favor. — é a última coisa que digo.
Afasto meu corpo do carro e o observo se mover lentamente, até correr sobre a avenida vaga e sem uma iluminação constante.
Ligo para Chaz e peço para que traga minhas meninas, porque quero dormir com elas essa noite e talvez todas as outras. Seus corpos quentes me confortam, cada uma de um lado, abraçando-me de maneira tão carinhosa, transferindo amor e calma. Elas me acalmam.


No outro dia.
Sábado, 10h00min AM.
Meu corpo recebe extremidades fortes e, a cada segundo, isso se torna mais frequente, me importunando, embora eu não encontre forças para abrir meus olhos e finalmente sair de um sono profundo.
— Mamãe, acorta. — sua vozinha rouca, agora nesse momento, é a única coisa capaz de me fazer rever tais condições. — Mamãe, a Hope lembrou. A Hope lembrou muito.
— Lembrou do que, meu amor? Deixe a mamãe dormir. — percebo a exaustão em minha voz. Estar grávida sempre me fez sentir vulnerável.
— Mas a Hope lembrou te tuto. Foi a Barbara, a Barbara que fez o totói no bracinho ta Hope.
Abro meus olhos rapidamente, observando o rostinho arredondado da minha garotinha. Seus cabelos estão atrapalhados e há poucas linhas em sua face semelhante a minha.
— Filha, o que você disse?
— A Barbara balançou a Hope muito forte, mamãe. A Hope caiu e machucou. A Hope lembra, lembra muito.
Com agilidade, sento-me sobre a cama e a puxo, fazendo com que a moreninha se aconchegue em minhas pernas.
— Conte para a mamãe direitinho o que aconteceu. — implorando, tento idealizar cada um de seus movimentos com os lábios pequenos e rechonchudos.
— A Barbara tisse que ia balançar a Hope, e ela balançou muito forte. A Hope caiu, caiu muito. E a cabecinha ta Hope toeu, mamãe. Bate nela. Ela machucou sua Hopezinha.
Passo-a para um lado distinto, aquele em Sky permanece deitada enquanto dorme. O que dura por pouco segundos, pois balanço seu corpinho até ver o brilho azul de seus olhos florescer diante à expressão séria que esboço.
— Sky, vá à casa do Brooklyn e o pergunte se ele pode cuidar de vocês enquanto a mamãe sai rapidinho. — ela sorri e boceja durante os segundos que gasta para levantar-se da cama e sair do quarto seguidamente.
Não demoro para me vestir e lavar o rosto, acabando com aquele amasso forte que existia em minha face quase pouco caótica. E quando termino, ao descer as escadas, vejo o garoto sentado num dos sofás enquanto brinca com as minhas menininhas. Ambas sorriem, elas realmente aparentam gostar muito dele.
— Brook, eu realmente não irei demorar. — minha voz escapa no momento em que piso no último degrau da escadaria.
— Não tem problema, eu cuido delas.
— Sky, faça alguma coisa para vocês comerem, mas não mexa no fogão, entendeu? — ela balança a cabeça, mesmo que esteja se pendurando no pescoço do adolescente risonho. — A mamãe não demora.

[...]

Adentro na grande empresa, sentindo o ar gélido debater-se em meu rosto carregado pela ironia de estar aqui novamente depois de tanto tempo. E durante os poucos minutos que passo dentro do elevador, penso no que direi, idealizo uma cena que, sendo franca, é incapaz de se tornar completa. Na verdade, eu sinto como se não soubesse agir quando, finalmente, eu a encontrar. E aquela parte sensata da minha mente escorre por minhas veias e deixa meu corpo ao escorregar por cada junta dos meus dedos que tanto aperto, tentando conter a raiva.
— Sel? — Vanessa questiona-me no momento em que deixo o apertado local acinzentado, que transfere uma insuportável melodia antiga. Talvez dos anos oitenta.
— Justin está? — por mais que eu não queira, acabo sendo rude com aquela pessoa que tanto denomino ser minha amiga. A outra presença no lugar, só faz tudo parecer normal demais.
— Não, mas a Barbara está lá dentro. — a loura aponta para a porta depois das mesas que estabelecem uma entrada inicial.
— Ótimo, melhor ainda.
Ambas as mulheres se entreolham, mesmo que minha fisionomia superior ignore toda a atenção reservada que consigo enquanto ando até a porta do escritório. E com cautela, eu a abro, observando a poltrona de couro virada na direção da parede auto-decorativa, com subseções que reivindicam um ar mais neutro e profissional.
Assim que nos prendo em tal lugar, cortando qualquer visão que Vanessa tem da sala aberta e arejada, com cuidado, tiro meus saltos escuros e os deixo no chão, agora sentindo a frieza do solo por baixo da pele fina dos meus pés.
Posso ouvir a voz esnobe de Barbara soar pelo cômodo, gabando-se por algo, talvez mantendo uma conversa pelo telefone, pois tenho a chance de observar sua base vazia.
— Eu disse absolutamente tudo, não consegui me segurar depois de ouvi-lo me humilhar daquela forma. — ela solta uma risada alta. — E a cara que o Justin fez foi impagável, deve ter se sentindo um idiota depois de saber que nunca traiu a mulherzinha sonsa dele. — a ruiva se silencia por alguns segundos, provavelmente prestando atenção na pessoa que exala sua voz por trás da linha. — E agora? Eu não sei, não o vi ainda. Mas eu não tenho nada a perder, ele terá que me suportar por um bom tempo. Se eu não posso tê-lo, Selena também não o terá, porque eu duvido muito que ela vá acreditar no que ele disser depois de tudo que aconteceu. Ela é burra, mas nem tanto.
Meu sangue parece fulminar abaixo da minha pele e eu o sinto escorrer por minhas veias, sendo capaz de fazer meu coração acelerar. Poderiam meus olhos se tornarem escravos de um ódio que jamais pensei que pudesse sentir antes? É como se minha saliva queimasse cada obstáculo do meu corpo quando essa atravessa a garganta estreita e dolorida pela vontade de gritar, de berrar, de chorar.
— Preciso desligar. Nos vemos à noite, Chant.
Assim que seu braço é esticado ao ponto de conseguir apoiar o telefone em sua base, observo, devagar, a poltrona de couro se mover até que está fique consciente e reta, deixando os olhos azuis da mulher me encarem toda, enquanto eles se arregalam a cada instante, acompanhando a surpresa grandiosa que sua boca faz seguindo os arredores espichados de deus lábios vermelhos.
Imediatamente, solto uma risada alta e por fração de segundos, bato palmas. Provavelmente, cinco vezes seguidas, impulsionando Barbara a erguer seu corpo, ainda assustada pela minha presença.
— Você fez um ótimo trabalho. — eu falo, acabado com o vigoroso silêncio que existia entre nós. Nesse momento, ela não me parece tão assustadora e com sua superioridade elevada quanto todas as vezes que estivemos próximas. — Bom, então tente adivinhar o que eu farei agora.
A mulher se afasta um pouco da poltrona, porém meu corpo sofre um impulso forte o suficiente ao ponto de minhas pernas, mesmo conscientemente trêmulas, andarem com rapidez, acabando com a pouca distância que havia entre ambos os nossos corpos, pouco menos de um metro, o que a mediana mesa de madeira proporcionava.
De imediato, envolvo seus cabelos lisos e ralos em todos os dedos da minha mão direita, puxando-os para baixo até fazer com que Barbara se incline e caminhe pelo local que percorro. Mas antes de jogá-la ao chão, empunho seus fios ruivos até conseguir ter uma boa visão de seu rosto assustado. Com a mão vaga, arrebato a finura de sua face, deixando-a avermelhada devido ao ato agressivo que impus no meu braço, permitindo que cada um dos meus tapas se torne pesado o bastante para conseguir ouvi-la gemer de dor.
— COMO VOCÊ OUSA MACHUCAR A MINHA FILHA? — hesitando a delicadeza, pressiono um pouco mais a mão que segura firmemente seus cabelos e impede que Barbara corra para um local seguro. E a cada segundo, sinto minha palma arder por conta dos inúmeros tapas que deixo seu rosto sofrer.
Imprudentemente, a ruiva apalpa minhas pernas com ambas as mãos e me empurra, colidindo toda a sua força física em meu corpo, até que, por descuido, eu a solto.
— Não me toque, sua vadia! — ela exige, agora engatinhando pelo chão, deixando seus cabelos caírem sobre o rosto. — Você vai se arrepender por isso.
— Você poderia ter mexido com qualquer parte de mim, Barbara. — por conta da curta pausa que exerço entre uma frase e outra, ela se levanta do chão e passa as mãos pelos cabelos. — Mas o seu erro foi ter machucado a minha filha. Ninguém faz isso e sai impune.
— E o que você fará? Vai me bater mais? — de repente, ela gargalha. — Você é patética, Selena. — um pouco depois de trocar alguns olhares comigo, a ruiva passa o indicador em suas narinas, uma de cada vez, e percebe gotículas de sangue escorrerem por sua pele afetada pelas poucas agressões que sofrera. — Sabe, me admira a persistência que ele tem sobre você. Mesmo o culpando por tudo, não teve um só momento em que Justin quis desistir de você. E sabe de uma coisa? Eu fiz tudo. Eu dei um jeito daquelas fotos pararem em suas mãos, eu o fiz se esquecer de todos os compromissos que tinha com você. Lembra-se da noite em que seu bebê morreu? Ele estava comigo, não do jeito que eu queria, mas estava comigo. Sabe o dia do concurso? Eu dei um jeito da audiência durar por mais algumas horas apenas para que ele não conseguisse chegar a tempo. Eu o droguei e o convenci de que você o culpava por tudo. E o melhor, eu empurrei a sua filhinha do balanço. Eu queria que ela morresse, eu queria acabar com a sua vida, tirar tudo de você. E eu quase consegui.
— Sabe de uma coisa? Eu tenho classe, mas sei quando devo descer do salto.
Sinto que perco o controle do meu corpo e tudo parece acontecer rápido demais. O momento em que eu a derrubo outra vez e me sento sobre seu tórax, às vezes arranhando sua face lisa, às vezes enforcando-a e sentindo que nunca um dia aquela sensação de ódio dominou-me com tanta intensidade ao ponto de querer matar alguém.
Ela grita de forma tão alta que começo a notar sua voz se romper aos poucos. E no momento em que ouço o barulho da porta se abrindo, observo Justin correr em nossa direção e puxar meu corpo, afastando-me da maneira destroçada que Barbara se encontra. Agora, ela chora, pressionando seu abdômen e, outras vezes, a região dos ovários. Seu corpo é erguido pela força física de Scooter, ele tenta acalmá-la.
— O que está acontecendo aqui? — o homem pergunta assustado, revezando seu olhar entre mim e a mulher em seus braços. — Barbara, você está bem? Está sangrando. — poderia jurar que ele se refere aos ferimentos que fiz sobre o rosto da ruiva, mas ao abaixar meu olhar e ver um sangue ralo escorrer por suas pernas, tampadas apenas uma saia justa preta, começo a me perguntar o quanto eu a machuquei.
— Eu estou sentindo muita dor. — ela fala, gaguejando e pressionando sua pele por cima das vestimentas.
Em disparada, me percebo tonta. Penso que desabarei, mas sinto Justin prender-me em seus braços. Olho em seus olhos e sinto vontade de dizer, de maneira lúcida, que esse filho é dele, é nosso.
— Tudo bem? — sua voz escapa num sussurro. Eu concordo balançando a cabeça.
— Vanessa! Vanessa! — Scooter grita, com o intuito de fazer a loura ouvi-lo, embora ela esteja do outro lado. — Chame uma ambulância. Barbara parece estar tendo uma hemorragia. — dito isso, ele a pega no colo e caminha em direção contrária, esquecendo das demais presenças no escritório.
Justin puxa meu corpo e me aconchega no único sofá que há no lugar. Percebo o choro começar a tomar conta do meu corpo. É isso. Eu sou fraca e talvez eu não me sinta tão idiota quando choro. Eu sou assim. Quando estou triste eu choro, eu sempre vou chorar. Isso não deveria ser um defeito.
— O que aconteceu? O que você faz aqui?
— Eu a ouvi dizer tudo. Ela machucou a nossa filha. — não espero muito para explicar as razões pelas quais. — Ela acabou com o nosso casamento. Destruiu a minha vida. — seus dedos cuidam das inúmeras lágrimas que saltam de mim. E profundamente, eu encaro seus olhos claros, me perdendo neles como se fosse a primeira vez. — Justin, esse filho é nosso. Eu nunca dormi com nenhum outro homem além de você.
— Você jura? — há tantas expectativas e sua voz. Não consigo lidar com essa parte frágil que existe entre nós dois.
— Eu juro.
— Me desculpe por ter lhe dito aquilo ontem, eu estava um pouco nervoso.
O louro me abraça tão forte que sou capaz de ouvir as batidas aceleradas de seu coração. Suas mãos brincam com meus cabelos e eu me sinto uma garotinha cega e sozinha, alguém que precisa ser cuidada de todo o mal. Que precisa daquela proteção que ele me oferecia, que ele me contaminava.
— Todas as vezes que eu falava que havia seguido em frente ou que pelo menos estava tentando, no fundo, eu só estava lhe amando ainda mais. E eu não vou pedir desculpas pelo que aconteceu, eu não me sinto culpada. Sei que fui enganada tanto quanto você.
O que me assusta é o quanto ele parece calmo. Talvez devesse arrancar seus cabelos, gritar, socar a parede, ou fazer qualquer outra coisa para expressar sua inquietude. Deveria deixar o desespero dominar sua mente, me xingar um pouco, talvez muito, enquanto estou aqui, tão desesperada e demonstrando o que eu sinto. Parece ser algo tão previsível.
— Tudo bem, está tudo bem agora.
— Queria me explicar por ontem. — Justin balança a cabeça, ele tende a prestar bastante atenção. — Eu liguei para o Pierre, porque precisávamos conversar. Há algumas semanas, ele me propôs algo. Disse que desejava que eu fosse para a França com ele.
— O quê? — percebo uma mudança brusca em sua voz, ele está desorientado, agora. — Você... Você não pode ir embora assim. Eu não vou permitir que você me deixe.
— Eu não irei. Foi por isso que o chamei, para falar que não posso ir. Mas não é apenas por você, é por mim, também, é pela minha vida. Não posso largar tudo aqui e ir para um lugar onde eu não conheça ninguém.
— Então, não é por mim?
— Não.
— Uau, essa doeu. — ele ri, embora esteja pensando a respeito.
— Eu te amo, sempre te amei, mas está na hora de eu começar a pensar um pouco mais em mim.
— Me dói saber que eu te privava das coisas. Eu sinto muito por isso. Sempre quis fazer você feliz, sempre quis que fosse apenas nós dois. Minha intenção nunca foi sufocá-la. — ele respira fundo e eu aliso seu rosto, talvez com tempo para contar cada uma de suas pintinhas amarronzadas. — Volte para mim.
— A verdade é que eu nunca fui embora. E vou me casar com você de novo e quantas vezes for preciso.
Suas mãos são envolvidas em meu cabelo de um modo que não posso me afastar, todavia, não pensei em fazer isso nem por um segundo. Contudo, volto a sentir seus lábios macios sobre os meus, e saboreio cada sensação deliciosa que esse beijo me proporciona.
Ouvimos um barulho forçado de garganta tomar conta do local, e quando viramos nossos rostos, assistimos a expressão engraçada que Vanessa carrega.
— Desculpe atrapalhar os pombinhos, mas Scooter acabou de ligar, ele disse que chegou ao hospital e quer que você vá até lá, Justin.
O louro apenas balança a cabeça antes de se levantar e me puxar consigo. Nos beijamos um pouco antes de eu descer do carro e vê-lo sumir pela avenida.

Justin Bieber POV.
12h40min PM.

— É por isso que você pediu demissão? — o homem pergunta no momento em que me vê sentar ao seu lado. — Estava se envolvendo com a Barbara?
— Não, eu não estava. Nunca me envolvi com ela. — falo orgulhoso, estufando o peito e quase batendo os punhos sobre ele. — Isso não é sobre um caso entre nós dois. Aquela mulher é louca.
— Ela está grávida. — arregalo meus olhos, quase vomitando meus próprios pensamentos. — Eu pensei que você fosse o pai.
— Ela não está grávida! — afirmo, colocando total certeza em minhas palavras. Eu a vi arrancar aquela ridícula faixa da barriga e me lembro do momento em que ela disse nunca termos nos envolvido.
— Sim, ela está. De poucos dias, mas está. Conversei com o médico que ficou responsável por ela, e esse foi o motivo do sangramento. Ela quase sofreu um aborto espontâneo. Foi por pouco.
— Não sou o pai dessa criança. Eu e Barbara nunca tivemos nada. Não sei o que acontecerá a partir de agora, mas isso não é um problema meu.
— E tem certeza sobre a demissão?
— Tenho. — ao dizer, levanto-me e aceno com a cabeça, reparando um sorriso gentil nos lábios do meu ex-patrão.
Ao chegar em casa, percebo uma calmaria, parece diferente, algo bom escorre pela corrente de ar que tanto me faz sentir bem, confortável e feliz por estar aqui novamente sem qualquer atrito entre mim e Selena.
Assim que passo pelo corredor e me escoro na parede gelada, observo Selena servir a mesa enquanto conversa com nossas garotinhas. Noto a felicidade em sua voz e a forma alegre que transborda em cada um de seus movimentos.
Ao se virar, nossos olhares se esbarram e ela fica séria, mas não é de uma maneira ruim. Na verdade, eu adoro essa sua expressão facial. Sinto como se ela voltasse a ser aquela mesma garotinha que conheci numa festa de adolescentes.
— Papai? — Sky pergunta, finalmente me notando aqui. — O que você está fazendo aqui? Veio nos buscar?
— Bom, eu estou no lugar certo? — brinco, encarando todas as três. — Pensei que estivesse em casa.
— Você voltou? — Hope quase grita, tentando descer da cadeira para poder correr até mim. Eu apenas balanço a cabeça. — Você voltou! — dessa vez, ela afirma, já abraçando minhas pernas até que eu pegue seu corpo miúdo no colo.
— Você vai ficar juntinho da gente de novo? Para sempre? — Selena gargalha do questionado da maior, nesse momento, abraçando minha cintura e não depositando nada além de alegria. — Eu estou muito feliz.

[...]

— A Hope vai ficar com isso no bracinho para toto o sempre? — a moreninha pergunta, encarando o gesso um pouco encardido.
— Não, meu amor, isso apenas irá curar seu bracinho, então, você poderá tirá-lo. Precisa apenas ter um pouco de paciência. — Selena explica, penteando os cabelinhos ralos da menor. — Está pronta. Agora podem ir.
Sky pega na mãozinha de Hope e ambas passam pela porta após acenarem.
— Você tem certeza de que é uma boa ideia deixá-las com esse garoto? — me refiro ao adolescente que mora na casa ao lado.
— Ele cuida delas todos os dias. As buscas no jardim e fica aqui até eu chegar do trabalho. Também, a sorveteria não é distante. Confio no Brooklyn.
— Tudo bem, é até bom ficarmos um pouco sozinhos. — Selena se aconchega em mim e pega um punhado de pipoca.
— Quando pegará suas coisas?
— Hoje mesmo. Não quero esperar nem mais um dia para poder voltar para nossa casa. — encho sua nuca de beijos, pressentindo que Selena sente cócegas, por isso se move constantemente e solta risadas altas. — Mas não é sobre isso que precisamos conversar. Barbara está realmente grávida.
— Mas ela... Ela disse que vocês nunca tiveram nada. É impossível ela estar grávida.
— Porém ela está. Quem é o pai, eu não sei. Mas não sou eu. Não sei com quem ela se envolveu e nem por quanto tempo, contudo, acabou finalmente engravidando.
— Tenho pena dessa criança. Depois de tudo que a Barbara fez, não duvido que ela queira abortar, se isso for um problema.
— Se é ou não um problema, tudo que eu sei é que não é nosso. Aliás, estou desempregado. Você irá nos sustentar de agora em diante.
— Você fala como se dinheiro fosse um problema para você. — ela ri sarcástica, brincando com meus cabelos. — Seu pai tinha uma concessionária de carros, ela é sua agora. Você possui mais dinheiro do que imagina.
— E falando nisso, preciso ir até lá. Deixei tudo nas mãos do Wesley, que sempre foi o braço direito do meu pai. Mas tenho que ver se está tudo ocorrendo bem.
— Mas precisa ser necessariamente agora? — conheço esse tom. E quando olho para seu rosto, também percebo aquele sorriso maldoso na curva dos seus lábios.
— Não, dá tempo de eu te foder bem gostoso.


Selena Gomez POV.

Dois meses depois, 05h00min PM.
Passo pelas portas cinza do elevador e vejo Taylor sentada num dos inúmeros bancos no saguão, com suas malas ao lado e um semblante agonizante. Reparo a tremedeira em suas pernas e o quanto ela batuca os dedos no descanso de braço.
— Você está linda! — falo altamente feliz, surpreendendo-a de maneira incomum.
— Selena! Que bom que veio se despedir de mim. Pensei que não fosse dar tempo. Te vi cheia de papéis essa manhã. Desculpe-me por isso, estou lhe dando tanto trabalho.
— Que isso, tudo sobre controle.
— Sua barriga já está tão crescidinha. Quantos meses?
— Brevemente estarei com três. — nós rimos juntas, ela já está de pé em minha frente. — Está ansiosa para sua tão esperada viagem à Paris?
— Demais. Não tenho controle das minhas pernas. — há um brilho maior em seus olhos claros, isso me faz bem. — E você? Como está sendo trabalhar para o dono de tudo isso?
— Está sendo ótimo,  apesar da exaustão.
Faz algumas semanas que deixei o estágio, apesar do pouco tempo que estive nele, para ocupar um lugar de secretaria do Theo Boulanger, pai de Pierre e o indivíduo que me entrevistou há meses. Ele achou melhor que eu me acostumasse com o fato de que agora não estarei sobre a orientação de seu filho, já que o mesmo estará partindo para Paris essa noite. E por isso, meu trabalho aumentou um pouco mais, motivo pelo qual passei as últimas semanas sem ver Taylor e as demais pessoas que trabalham aqui.
— E como será a partir de agora?
— Bom. — suspiro, tirando um peso de mim. — Vou continuar trabalhando até não conseguir mais, então, tirarei licença para poder cuidar do meu filho. Mas quando for possível, voltarei. Não serei mais aquela dona de casa. Eu e Justin estamos nos acostumando a outro tipo de vida, nada será como antes. E eu acredito que seja melhor assim. Vamos ficar bem.
— É ótimo saber disso.
— Temos que ir. — sua voz é familiar. Eu não preciso me virar para saber quem está aqui nesse momento. — Que bom que está aqui, Selena!
— Pierre! — eu o abraço, sentindo seu corpo apertar o meu de forma carinhosa, sem machucar qualquer parte de mim. Não nos víamos há semanas, agora trabalho em um prédio um pouco mais superior.
— Você está linda! — ele se refere a minha barriga, independente se ela está ou não tão perceptível. — Vamos voltar a nos ver algum dia?
— Claro, eu ainda preciso conhecer Paris. Talvez um dia nos trombemos lá.
Sinto um calor excessivo na região dos meus quadris. Seu hálito e a respiração tomam conta da minha nuca e eu pressinto meu coração acelerar, pois seu perfume dócil sempre me deixa bamba, me faz feliz.
— Então, temos que ir. — o rapaz diz. Ele me abraça novamente e, de modo educado, se despede de Justin.
Pierre e Taylor se vão.
— Confesso que fico feliz por ele estar indo embora. Me sinto um pouco ameaçado quando você está tão perto dele. — Justin sussurra, ainda com seu corpo por trás do meu, me transferindo tamanho afeto. — Vamos para casa?
— Ainda estou no meu horário de trabalho, não sei o que você faz aqui, exatamente. Sabe que só largo depois das sete.
— Agora que eu não trabalho, não tem tanto o que fazer.
— Talvez devesse procurar um emprego, já que isso te deixa tão à toa. Não quero que fique barrigudo por passar o dia inteiro sentado enquanto come e joga videogame. — ao me virar, Justin beija meus lábios diversamente, me causando risadas altas, ele ri de volta. — Bae, tenho que ir. Se meu patrão nos vir de tal maneira, estarei mais encrencada do que você imagina.
— E o que eu faço durante o tempo que você não está?
— Prepare o jantar, ora. — ele rola seus olhos e gargalha. — Eu estive o ensinando, certo? Está na hora de mostrar o que aprendeu. Quero uma maravilhosa macarronada.
— Terá sua macarronada, só não prometo que ela estará maravilhosa.
Demos um último beijo e logo Justin me deixou no elevador e voltou para casa, quem sabe.


Sete meses depois.

01h10min PM.
— Tchau, Kenai, nos vemos mais tarde. — Sky fala com o bebê dentro do carrinho, totalmente adormecido. — Tchau, mamãe.
— Tchau, mamãe. — Hope beija minha bochecha e dá a mão para a irmã. Ambas atravessam o portão.
— Até mais tarde, garotas. — elas acenam e entram no estabelecimento, me fazendo virar o corpo e empurrar o carrinho enquanto ando.
Demora cerca de dez minutos até chegar em casa. Kenai está dormindo, eu o amamentei antes de levar as garotas à escolinha. Contudo, subo até seu quartinho esverdeado e o deixo no colchão, ligando o pequeno brinquedo instrumental que existe sobre o berço.
— Durma com os anjos, meu amor. — ao sussurrar, afasto meu corpo e durante os segundos que gasto para chegar à porta, encaro meu bebêzinho adormecido, tão pequeno e vermelhinho, empacotado numa manta branca como algodão.
Passo algum tempo arrumando a casa, recolhendo os brinquedos das garotas e algumas mantas do Kenai. Quando o telefone toca, reconheço que talvez seja Justin. E ao ouvir sua voz rouca soar, perguntando se está tudo bem, me jogo no sofá e encaro qualquer canto quieto.
— Eu vou demorar um pouco. — o louro diz, me fazendo rolar os olhos. — Tenho que assinar algumas papeladas da concessionária, mas chego para o jantar.
— Podemos lhe fazer uma visita?
— Claro, meu amor. É até bom. Assim você pode escolher o carro que quer.
Um barulho estranho vem do andar acima, algo suficientemente capaz de me fazer assustar e pular do estofado em que estive largada.
— Tudo bem, mais tarde eu estarei aí.
Não espero com que Justin me responda, apenas desligo o telefone e o jogo num local qualquer.
Subo as escadas rapidamente, quase tropeçando em meus próprios pés, e ao alcançar o corredor, percebo a porta do quarto de Kenai fechada. O medo toma conta de mim, talvez a paranóia, mas isso não impede que meu coração se acelere enquanto caminho até o quarto, ultrapassando os dois primeiros.
Rodo a maçaneta com calma e empurro a madeira branca, encarando o berço como se ele fosse o único objeto no lugar. Basicamente corro em sua direção e me desespero em não ver meu bebê enrolado em sua manta.
— Oh, meu Deus, Kenai!
— Fale baixo, você irá acordá-lo. — meu corpo inteiro é paralisado. E, aos poucos, viro meu rosto, encarando-a com o meu bebê nos braços.
— Barbara?!



Se eu tivesse a chance, se eu tivesse a chance eu nos faria novos em folha. Eu nunca quis, nunca quis que fossemos restos. — Been You

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ALO ALO, PENÚLTIMO CAPÍTULO E EU NÃO ESTOU ACREDITANDO NISSO. Gente, olha só onde já estamos. Eu sei que demorei, mas eu estou com infecção intestinal e urinária, ou seja, sinto muita dor abdominal e na região dos ovários, só consigo ficar deitada, dormindo para ver se a dor alivia, já que eu não tenho nem dinheiro para comprar os remédios ):
De qualquer forma, arranjei um jeitinho de escrever, só teria capítulo na sexta que vem, mas eu não queria fazer vocês esperarem tanto. Eu queria dizer também que eu fiz uma conta no wattpad e PROVAVELMENTE postarei uma história lá com inspiração no clipe da Halsey, Colors. Espero que vocês me acompanhem lá, amém.
É só isso. Depois do fim, terá o epílogo que será dividido em algumas partes, como vocês já sabem. Estou tão ansiosa.
Não respondi os comentários, me desculpem, mas eu realmente estou sentindo bastante dor e só quero ficar deitada. Me perdoem. Beijos ❤️

Capítulo 39.


Minha fibra óssea parece desgovernada enquanto, por capricho e temor, encaro o carpete aveludado por baixo dos meus pés juntos, estes capazes de causar extremidades em meu corpo de pouco a pouco, durante o tempo que gasto para transferir algo sensato a minha linha de raciocínio. Sobretudo, diversas vezes percebo a respiração incuravelmente instável que usufruo no momento, demonstrando a falta de estrutura sobre minhas pernas que, apesar de estarem pousadas em algo concreto, se encontram fracas demais para um ser tão apto como eu. 
Esbranquiçadas imagens congelam minha mente e nada mais do que cenas incompletas vagueavam pela parte onde minhas memórias permanecem guardadas. A dor de querer me lembrar de algo faz minha pele se tornar desgastada no segundo em que a sinto arder, como se algo estivesse repelindo sua insensibilidade e rasgando cada centímetro que a recompõe sobre minha estatura rígida.  
— Eu não consigo. — confesso, por mais que isso me force a ser um idiota. — Eu estou num bar e, de repente, acordo ao lado de Barbara. É como se tivessem arrancado de mim, metade daquela noite. 
Ryan senta-se ao meu lado direito e eu percebo as diversas fotografias em suas mãos trêmulas, evidenciando as veias explícitas por baixo da pele banhada pelo sol. 
— Eu preciso pensar. — completo os pensamentos que tanto passaram pela minha mente, mas em voz alta, ressaltando que isso não se perderá com as especulações que nunca digo em tom elevado. — Preciso de um tempo. 
Pego as garotas e as levo ao meu apartamento depois de pouco tempo mantendo uma conversa incomum com Ryan. Após um demorado banho, visto pijamas aquecidos em seus corpos moles e nos sento nos sofás em frente à televisão, começando a assistir a um desenho famoso, já na metade do mesmo. 
Sky sabe todas as falas, o que irrita Hope por causar uma insolência ao nosso redor quando, automaticamente, ela diz algo em voz alta em cada diálogo, semelhando a cena que passa no momento. 
— Sky! — a repreendo de maneira calma, fazemos seus ombros relaxarem. — Fique caladinha e deixe sua irmã assistir também. 
A garotinha balança sua cabeça e volta a prestar atenção no desenho, me deixando mais tranquilo por sentir o corpinho de Hope se tranquilizar por cima do meu, com cuidado e serenidade, enquanto sua bochecha esquerda está apoiada em meu tórax desnudo e o bracinho engessado, também isolado para que nada o afete de forma hostil ou não proposital. 
Depois de um tempo, procuro meu celular e penso um pouco antes de fazer tal ligação, apenas por medo de assustá-la, de pressioná-la ou algo parecido, por medo de que algo atrapalhe e que a deixe confusa, embora eu tenha passado a implorar que as coisas boas comecem a afetar sua memória e que ela se lembre de todos os momentos felizes que passamos juntos. 
Oi? — sua voz serena é realçada do outro lado da linha, o que explicita o sono e a exaustão. 
— Sou eu... Justin. — ela sabe, a menos que não tenha checado a chamada antes. — Eu liguei só para saber como você está, se você precisa de alguma coisa. 
Ouço a risada fiel de Selena, a cautela e gentileza estão sobre cada tom firme na sintonia que escapa de sua garganta. 
Estou bem. — ela diz, afastando qualquer rudez que poderia existir entre nós. — E você e as garotas? Como estão? 
— Bem, estamos bem. — ao responder, olho para as duas pessoinhas próximas. Sky deitada no sofá pouco distante e Hope repousada em meu corpo. Sua respiração demonstra o sono tranquilo que a domina. — Como foi o seu dia? 
Eu só me encontrei com a Ashley depois do trabalho. Almoçamos juntas, mas nada de mais. — houve um silêncio devasto, o que indicou a falta de conforto sobre ela. Selena parece sem jeito, não preciso olhar sua expressão facial para saber qualquer sensação que apossa seu corpo. — Preciso desligar, acordarei cedo amanhã. 
— Oh, claro. Foi bom ouvir sua voz. — eu acabo rindo com o intuito de confortá-la. — Nos falamos depois, meu amor. 
Boa noite, Justin. 
A chamada foi  encerrada antes que eu pensasse em responder ao simples desejo que me foi feito. Entretanto, desolado e um pouco sem graça, solto minha respiração de um modo que dói meu peito e repele a calmaria que antes tentei obter. 
Levanto-me com cuidado para que minha pequena garotinha não acorde. Sky percebe os movimentos que faço, contudo, desliga a televisão e segue meus passos em direção ao segundo piso do apartamento. Guio-nos até meu quarto, evitando adentrar no seguinte. 
— A gente vai dormir com você, papai? — a mais velha pergunta, observando quando coloco o corpo molinho de Hope na cama. 
— Sim, eu as quero bem pertinho de mim essa noite. — viro meu rosto para encarar seu semblante ao ouvir-me dizer. Entretanto, seu sorriso é imenso e compatível ao movimento rápido que seu corpo sofre quando jogado na cama. 
Quando deitado, encarando o teto escuro, por pouco tempo me lembrando de quando tudo começou, uma dor me consome. Eu penso na possibilidade de nunca mais tê-la comigo, embora essa remota chance tenha sido apagada pela persistência e otimismo que tanto insisto ter. Lembro do quanto Selena significa para mim e chego à conclusão de que isso é apavorante. Tão forte que me assusta. É devastador olhar para o lado e perceber que não há ninguém com quem posso compartilhar meus sentimentos momentâneos e todos aqueles fixos. 


Selena Gomez POV. 
Segunda-feira, 03h15min PM. 
Repouso as papeladas sobre a mesa de Pierre e encaro o local vazio, sentindo o cheiro dócil que o invade, que arrebata meu rosto e os componentes deste. Deixo o lugar após três minutos gastos, pensando em todas as coisas que eu deveria pensar. E de um jeito tolo, rio. 
Penso no que me faz gostar dele mesmo com todas as certezas que eu tenho para não gostar. É até meio constrangedor eu insistir tanto em pensar, em ficar, em estar. 
As portas do elevador se abrem quando caminho em direção à mesa. Vejo o semblante quieto e fechado de Taylor, embora eu ache seus olhos chamativos, bastante provocantes para alguém que possui um rosto tão genuíno e encantador. 
— Suas fotos estão prontas. — ela diz quando apoia um envelope ao lado do notebook. — Ficaram lindas. 
— Você acha? — sei que há um brilho maior em meus globos oculares. — Me deixe ver? 
A mulher balança a cabeça e me entrega o papel que tanto segurava. E quando pego as fotografias, não me importo em perceber o tamanho do sorriso que doma meu rosto, me deixa vulnerável e maravilhada. 
— Estão ótimas. — ela concorda ao chacoalhar-se toda. — Taylor, você está... Chateada comigo? — evito ressaltar a razão pela qual. Isso me faria sentir estúpida. 
— Oh, não. Mas é claro que não. — de repente, a morena ri. — Selena, não estamos mais no colegial. Eu não te culparei por nada do que talvez tenha acontecido, além de que, devo deixar claro que nunca houve nada entre mim e ele. Pierre sempre foi apenas meu chefe e nada pode impedir que ele queira ter algo com alguém. 
— Mas eu sabia... — ela me encara da maneira mais profunda que consegue. — Sabia que você sentia coisas pelo Pierre e ainda assim não evitei sair com ele. Me desculpe. 
— Ei. — Taylor solta uma risada sincera. — Está tudo bem. Não se preocupe, ainda somos amigas, e eu gosto muito de você. Não deixe que isso tome conta da sua mente. Fique tranquila. 
— Certo. — movimento meu pescoço, concordando com seu pedido persuasivo. — Você deve estar animada, não é mesmo? Ouvi dizerem sobre a viagem à Paris. 
— Eu não vou. — ela anda até sua mesa. 
— Mudou de ideia? 
— Não, Pierre não tem a intenção de me levar. — sua voz soa baixa e eu noto que isso é algo que a incomoda. — Mas está tudo bem. Eu sempre gostei de trabalhar aqui. 
— Como não? Você me disse que... 
— Eu sei, mas talvez ele tenha mudado de ideia. — imediatamente após perceber a atenção que dou, Taylor sibila e me encara nos olhos. — Pierre quer que você vá com ele, Selena, não eu. 
Meu coração acelera ao reparar a seriedade com a qual Taylor prossegue a conversa. Tanto que, de modo ingênuo e surpreso, sinto meus olhos se abrirem mais e mais, até que alcançam seu máximo e a ardência começa a se intensificar em seus arredores completamente contornados pelo lápis negro que reforçam melhor aquela região. 
— Eu? — é uma pergunta retórica e a mulher entende isso, portanto, se sobressai na dianteira ao permanecer em silêncio durante os instantes que trocamos olhares. — Eu não posso ir para Paris, Taylor. É basicamente do outro lado do mundo. Além de que, não existe apenas eu. 
— Eu sei, mas foi o que eu ouvi. — ela sorri sem jeito e se acomoda melhor na cadeira, mesmo que isso nos cause um tenebroso silêncio. 
Assim que o tempo vagueia pelo local, levando à tardinha com os minutos que passam voando, quase no meu horário de partida, Pierre chega. Passara a tarde numa única reunião, talvez mostrando o ensaio fotográfico que fiz há dois dias. 
— Selena, pode vir a minha sala, por favor? — o rapaz questiona assim que passa pelo perímetro no qual me encontro. 
Ao ultrapassar a porta, levanto-me de imediato e olho para Taylor antes de qualquer coisa, apenas me certificando de que há algo desconfortável em sua feição séria. Porém, ao contrário disso, ela parece focada demais nos afazeres que lhe fora responsabilizados, portanto, não nota quando caminho em direção ao cômodo à frente, deixando com que os ares preencham meu corpo de protestos e receios. 
— Como está sua menina? — me sento ao ouvir sua pergunta, me parece realmente significativa e não feita apenas por curiosidade. 
— Ela está melhor, foi apenas um grande susto. — ao responder, seu rosto sobe e um sorriso maroto o apossa. 
— Fico feliz, então. — conclui. — Precisamos ter uma conversa séria. E antes que me pergunte, não é nada sobre o acontecimento da semana passada. Na verdade, isso é algo que você não precisa se preocupar. 
— Eu só queria me desculpar pelo ocorrido. 
— Não é necessário, sem contar que nada foi culpa sua. E, acima de tudo, a reação do... — Pierre dá uma curta pausa e encara meu rosto, talvez pensando no que dizer. — Justin! Foi compreensível, se pensarmos bem. 
— Não, não foi. 
— Não se preocupe. Não tem razão para se desculpar por algo que você não fez. E, bom, não é sobre isso que pretendo falar com você. 
Concordo ao balançar a cabeça. 
— Você sabe que voltarei para França em dois meses, certo? — anuo. — Então, eu queria saber se você está disposta a ir comigo. 
Taylor tinha razão. Talvez Pierre nunca tivesse tido a intenção de levá-la com ele, e desde o começo eu fui sua primeira opção. Pelo menos, a partir do momento em que permiti que ele se aproximasse, embora tivesse tido cautela e paciência. 
— Ir para França com você? 
— Sei que parece uma coisa louca e bastante repentina, mas eu me lembro de como você estava disposta a começar uma vida nova de um jeito diferente. E apesar da mudança brusca, isso irá ajudá-la. 
— E-eu, eu não posso. — falo lentamente, com medo das reações que ele pode me demonstrar. — Não posso simplesmente deixar minhas filhas assim. 
— E quem disse em você deixar suas filhas? Eu nunca lhe pediria algo como isso. — ele ri alto e nega rapidamente. — Se há lugar para você, há lugar para elas, independentemente da situação. 
— Pierre, tudo que eu menos quero agora é depender de alguém. Há pouco tempo desde comecei a explorar minhas próprias grandezas. Não estou disposta a abrir mão da minha independência assim. Eu demorei muito para perceber que eu preciso de mim e não dos outros. 
— Não será como se você fosse depender de mim. — novamente, ele ri, só que agora de um jeito mais brincalhão. — Lá você terá toda a estrutura para seguir uma ótima vida. Continuará trabalhando, tendo sua casa que, aliás, é obrigação da empresa te fornecer. Então, não pense que terá algum tipo de recepção especial, se é isso que te incomoda e te faz sentir fraca.  
— Mas... 
— A propósito, você terá total direito de escolher se quer ou não ficar antes de assinar qualquer contrato. Se perceber que pode não funcionar, tem a opção de voltar para casa. E se te faz sentir melhor, não precisa me dar a resposta agora. Você tem dois meses para pensar, mas te afirmo que não irá se arrepender. Lá é um lugar incrível. 
Passo pela porta em fracas caminhadas. Sinto minhas pernas bambas, e a vontade de consolar meu corpo em algo macio aumenta ainda mais quando observo Taylor atenta ao monitor em frente aos seus olhos claros.


Justin Bieber POV. 
Sexta-feira, 09h20min PM. 
Com calma, viro o copo de vodca na garganta, o que começa a causar uma certa ardência devido ao ácido da bebida. A música soa numa melodia abafada, porém sei que não é por conta do efeito do álcool, pois fora meu primeiro copo desde que me sentei no sofá e comecei a conversar com meus amigos da empresa. 
Ouço um alvoroço por trás de mim e alguém dizer num tom audível o bastante: "ela chegou". Imediatamente, viro meu rosto e encaro à direita, observando Selena caminhar com ambas as garotinhas ao seu lado. Eu me sinto no colegial, me sinto um garoto recatado vendo a mais linda e perfeita garota do ensino médio andar pelos corredores e encantar a todos com sua radiante beleza. 
Meu corpo sofre um forte impulso, eu me levanto e sorrio, feliz por vê-la aqui tão próxima, rindo e andando na minha direção. 
— Feliz parabéns, papai. — Hope fala e logo depois abraça minhas pernas, embora tenha cuidado com seu braço ainda engessado e pequenino.  
— Feliz aniversário, príncipe! — Sky berra, também se apertando contra meu corpo e entregando todo o amor que pode. — Eu te amo. 
— A Hope também ama, papai, ama muito. 
Entretanto, abaixo meu corpo e as pressiono com afetividade, também entregando o imenso amor que sinto pelas duas, da forma mais compacta e feliz de todas. 
— Obrigada, meus pãezinhos de mel. Eu amo vocês daqui até a lua. 
Cada uma beija um lado do meu rosto, me permitindo fechar os olhos para saborear a sensação amável que isso causa às pontas dos meus pés. 
Ao erguer meu corpo, olho para a morena ainda quieta, com um perceptível sorriso congelado na feição calma que apossa a atmosfera, e apesar de haver bastante pessoas ao nosso redor, nada me prende mais a atenção do que seus olhos pardos que tanto me encaram, agora. 
— Feliz aniversário, amor. — meu coração acelera devido à forma que ela diz, à maneira como seu sorriso se alarga de felicidade e carinho. 
Seus braços me acolhem e eu sou pressionado por sua parte mais cuidadosa, como sempre acontecia em noites como essa. E o aroma forte e gostoso de seus cabelos ondulados e grandes, domina cada um dos meus átomos, fazendo com que eu me leve a um local longe, mesmo que ainda envolvido em seus braços frios, porém macios o suficiente para me deixarem tão vulnerável e entregue de bandeja. 
— Que bom que você está aqui. — sussurro, com medo de que isso possa parecer uma confissão. A verdade é que eu poderia gritar para o mundo inteiro, não é segredo o amor que sinto por essa mulher. É a única pessoa que não poderia não estar aqui. 
Selena cumprimenta meus amigos e logo se acomoda ao lado de Ashley e Vanessa, observando as garotas brincarem com ambos os porquinhos no chão da sala. Ryan segura os rosinhas, eu apenas observo todos se divertirem e poucas são as vezes que não penso no quanto a noite pode se tornar ainda melhor caso ela fique comigo. 
— Eu ainda estou incomodado com aquelas fotos. — falo ao Jaden, ele sabe o assunto. Transfiro-me ao dia em que vi fotografias de Selena espalhadas pelo apartamento dos rapazes. Ela parecia tão sensual ao público. 
— É algo profissional, cara. — Chris comenta, agora bebendo a cerveja quase amarronzada. — E se isso te serve de consolo, ela seria capa de uma das revistas mais famosas da América, mas preferiu fazer parte apenas de um catálogo. 
Olho para Selena outra vez, percebendo o grande sorriso em seus lábios e a felicidade no brilho agudo de seus olhos. 
— Eu ainda não gosto disso. Só de pensar que outras pessoas podem olhar minha Selena de um modo mais explícito, me sinto incomodado. — os quatro rapazes gargalham. — Eu me sinto tão enciumado quando o assunto é ela. Não sei o que acontece comigo. Eu só... Tenho tanto medo de perdê-la. E agora que há uma possibilidade de fazê-la me perdoar, não quero nada no nosso caminho, nem mesmo meu ciúme incontrolável. 
— Acho que você deve se equilibrar, sim. — diz Ryan, encarando os gêmeos dentro do carrinho. — E também, para de ser tão controlador. Não pode querer que ela fique em casa apenas dando assistência à família. Não estamos mais nos anos oitenta. As coisas mudaram. 
— Eu sei, mas eu quero que seja apenas nós dois e nossos filhos. — admito, por mais que isso possa soar egoísta. É a minha verdade. É assim que eu quero que as coisas sejam. Quero que tudo volte a ser exatamente como era antes. 
— Justin, só existe uma terceira pessoa quando você permite que ela exista. — Jaden se pronuncia outra vez, me deixando confuso. — O fato de vocês serem casados não quer dizer que ela precise viver por você e vice-versa. Selena sempre foi muito isolada do mundo. Tornou a vida dela um pião ao seu redor e isso não é saudável. Se quer que as coisas deem certo é melhor começar a respeitar o espaço que ela conseguiu desde que vocês se separaram. 
— Ele tem razão. — pela primeira vez, Chaz diz algo. — Mas eu serei padrinho só do filhinho da Selena. 
Nós rimos juntos; eu agradeço por ele sempre levar, apesar de tudo, as coisas para um lado humorístico ao invés de sempre nos manter naquele clima denso. É tudo para descontrair a atmosfera fria. 
— Justin, por acaso você é idiota? — assim que Ryan me pergunta, eu o olho assustado. — Por que diabos você convidou essa mulher? 
De repente, olho a direção em que as orbes azuladas de Ryan tanto encaram, percebendo a presença icônica de Barbara em meu apartamento. A saliva escorre pela minha garganta de maneira dolorosa e a primeira coisa que faço após manter um curto momento assistindo-a andar pelo lugar pouco vazio, é olhar para o rosto da minha mulher escorada na janela com um copo de vinho tinto na mão. Ela parece hipnotizada pelo momento, ou talvez apenas queira correr para um lugar menos intenso. 
— Eu não a convidei. — respondo baixo o suficiente para que apenas os quatro amigos escutem. — Droga! Eu convidei todos da empresa, eles devem tê-la chamado. Me esqueci de deixar um bilhete dizendo: "não convidem a senhorita Palvin." — meu timbre flui irônico, pois sinto vontade de me esmurrar. 
— Feliz aniversário, Justin. — ao ouvir sua voz nasal e petulante ecoar pelo perímetro em que me encontro, levanto-me do sofá e sinto seus braços me apertarem num abraço desconfortável. E durante esse momento, olho para Selena que, dessa vez irritada, vira seu corpo e caminha em direção à cozinha. 
— Obrigado. — afasto-nos com rapidez e encaro o local. — Se me der licença... — antes de pensar em completar minha frase, arredo meu corpo o bastante para conseguir caminhar de maneira mais habilidosa, adentrando na cozinha e observando Selena com seu corpo encostado no balcão enquanto bebe o restante do vinho. — Eu não a convidei. 
— Então, o que ela faz aqui? — a morena soa raivosa, falando entre os dentes para evitar ser rigorosa demais. 
— Eu não sei, ela deve ter escutado sobre isso. Mas não a chamei, acredite em mim. — quando estamos próximos, logo após eu lamber meus lábios e tentar reconfortar seus pensamentos, Selena desvencilha suas mãos das minhas e desvia nossa aproximação. — Não faça assim, por favor. Sei que isso te incomoda e entristece, mas não tente afetar nossa relação por conta disso. Eu não a quero aqui também, porém não me sentirei bem em expulsá-la assim. 
— E eu não me sentirei bem estando no mesmo lugar que ela. Vou para casa. — Selena anda por poucos segundos, pois pressiono seu pulso de forma rígida, firme. 
— Amor, não faça isso. Eu te quero muito aqui comigo essa noite. 
— Desculpe, Justin, mas a noite acabou para mim. 
Eu a deixo ir por medo. Medo de que ela se sinta pior, se sinta pressionada, se sinta mal. E embora eu a queira comigo, uma parte de mim sabe que a presença de Barbara não ajudará com que eu e Selena fiquemos bem.


[...]


Meus amigos se despedem, desejando-me um ótimo restante de noite. E a cada segundo, o apartamento se esvazia. Jaden leva as garotas, dizendo entregá-las à Selena na manhã seguinte. E ao fechar a porta, percebo que minha presença não é a única. 
Barbara está sentada no sofá, parece calma enquanto bebe seu vinho e encara a televisão desligada, parcialmente manchada pelos pequenos dedos de Hope e Sky. 
— Aqui é lindo. — surpreendentemente, a ruiva se refere à decoração. O apartamento, de fato, é bem trabalhado e bonito. — Eu queria ficar mais um pouco, queria conversar com você. 
— Tem certeza de que é uma boa hora? Me sinto exausto. — a mulher me olha rapidamente, observo um sorriso em seus lábios curvados. 
— Só preciso de alguns minutos do seu tempo. 
— Tudo bem. — após me aproximar, conforto meu corpo sentando-me ao seu lado no sofá de couro. Barbara dedilha suas pernas desnudas, arranhando as unhas finas e grandes pela espessura de sua pele.
— Vamos beber um pouco. 
Sua mão se estica e eu acabo recolhendo a taça de vinho apenas para relaxar, pois passei a me sentir desconfortável quando estamos juntos, frente a frente, sozinhos. 
— Eu queria conversar sobre nós, Justin. Sobre o nosso filho, sobre o nosso futuro. — não sei se é o efeito do vinho, mas isso acaba despertando meu lado mais fraco. Contudo, não consigo evitar a gargalhada que solto. 
— Barbara, teremos um filho, ponto. — apoio à taça na mesa central e encaro os olhos claros da mulher. — Não temos um futuro. Não existe 'nós'. A minha vida é com a Selena e nem mesmo isso... — me embolo um pouco, pois penso em algo que possa não magoá-la. — Nem mesmo esse filho fará com que eu queira desistir do meu casamento. Eu e Selena temos uma história juntos, eu e você fomos um erro. Um erro que se eu pudesse, repararia. Vou assumir a criança, mas isso não significa que eu a queira, de algum modo, ou que isso fará com que nós dois nos tornemos algo. Você só será a mãe do meu filho e eu apenas serei o pai dele. 
Não sei definir a expressão facial que agora paira pelo seu rosto liso, porém longe do natural. Não sei se ela pensa em dizer algo, ainda que eu tenha noção de que isso talvez tenha a afetado, mesmo que minimamente. É melhor colocarmos alguns pontos ao redor dessa bolha insuportável que acabamos criando, embora isso ainda seja demais para que eu acredite. 
— Na verdade, é até bom estarmos conversando, porque eu estive pensando no que aconteceu e preciso de algumas explicações. — ela se entorta um pouco quando ouve meu tom forte. — Eu queria saber como a Selena descobriu sobre nós. 
— Por que está perguntando isso para mim? — percebo uma mudança brusca de comportamento. — Eu não sei como aquelas fotos foram parar nas mãos da Selena. 
Com delicadeza, solto uma pequena risada. 
— Mas eu não me lembro de ter dito sobre as fotos. 
Depois de algum tempo em silêncio, Barbara se levanta e larga a taça. Não entendo a razão pela qual seus passos se tornam possessos à região em que nos encontramos, até mesmo a risada histérica que soa de suas cordas vocais afetadas por uma ira incomum. 
— É inacreditável como eu perdi o meu tempo. — ela diz, encarando o teto e rindo seguidamente. — Sinceramente, não sei quem é o mais idiota entre você e Selena. E quer saber? Já que estamos sendo honestos, acho que tenho algumas coisinhas para te contar. 
Sinto meu coração acelerar, pois ela parece diferente. Não é a mesma mulher que um dia conheci e achei que tivesse se tornado uma amiga. 
— Sabe a nossa noite, Justin? Ela nunca aconteceu. Você nunca traiu sua mulherzinha. — por impulso, me levanto. Sinto meus músculos pulsarem. — Eu droguei você, e não importa o quanto você tente, nunca se lembrará do que realmente aconteceu, porém posso refrescar sua memória. 
— Do que você está falando? 
— Você me ajudou bastante, você criou brigas com Selena sem precisar da minha orientação. Sempre sendo aquele idiota que acha ter uma vida de solteiro mesmo com mulher e filhos em casa. Sempre sendo muito manipulável. Eu só precisava dizer que você estava certo e ela estava errada. Isso fazia com que eu te ganhasse um pouco mais ao ponto de você se sentir confortável para falar sobre seus problemas. Você só queria alguém para passar a mão nos seus erros, queria alguém que te escutasse sem dizer: "você está se comportando como um moleque." E foi isso que eu fiz. — posso ouvir o barulho que meus órgãos fazem dentro de mim, sem hesitação, por medo. — Eu te fiz acreditar que desde o começo Selena lhe culpava pelo aborto que sofreu. Eu te fiz acreditar que ela era alguém incapaz de perceber seus acertos. Na verdade, eu te fiz acreditar em muitas coisas. E se você tivesse escutado sua mulher desde o começo, talvez não houvesse uma terceira pessoa. Então, obrigada. E quer saber? Acho que não preciso mais dessa coisa me incomodando. — a mulher levanta a blusa e eu olho uma faixa enroscada ao redor de sua barriga. A cada segundo, me sinto tonto e incrédulo, desacreditado do que vejo e ouço. — Esse bebê não existe, nunca existiu. — Barbara joga o pano grosso num lugar qualquer. 
— Você não está grávida? 
— Deveria agradecer por isso, não era tudo que você menos queria? — novamente ela debocha. — Então, não vai me dizer nada? Eu esperava alguns gritos, algum tipo de ataque, mas isso é tudo que você me oferece? Sua feição inexpressiva? 
Algo toma conta dos movimentos que saem de mim, tanto que ao menos percebo o momento em que   corro em sua direção e empurro seu corpo, pressionando-o na parece fria do apartamento. Meu punho lateja quando é colidido com  a argamassa presente atrás de suas costas. Isso machuca. 
— O que aconteceu com o "não se bate em mulher nem mesmo com uma rosa?" — a ruiva debocha, logo preenchendo meu campo de visão com seu sorriso cruel o bastante para me fazer perceber a maldade em seus olhos azuis. 
— Como você teve a capacidade de fazer isso? 
— Não foi tão difícil. — sua voz fina flui de forma que me irrita. Eu queria afundar meu punho em seu rosto, mas algo me impede. Portanto, eu a solto e vejo suas mãos acariciarem os braços que tanto pressionei.  
No entanto, começo a andar de um lado para o outro. Talvez com a intenção de coincidir tudo que ela falou a tudo que aconteceu. 
A bebida que tomei depois de deixar o banheiro do bar. É a última coisa que me lembro antes de acordar e percebê-la ao meu lado. As fotos sem explicações e a maneira como elas pararam nas mãos de Selena. O jeito como ela me convenceu a acreditar que talvez minha mulher não desse valor às coisas que eu fazia por nós. Tudo vem como um soco no estômago. 
Rapidamente, ando até o sofá e recolho meu celular que estivera sob as almofadas. 
— O que você vai fazer? Ligar para ela e tentar convencê-la disso? — olho para Barbara. — Acha que Selena vai acreditar quando nem mesmo você foi capaz de confiar na sua fidelidade? Você é tão tolo e ingênuo. 
— Por que você... Por que tudo isso? — encerro a ligação que eu havia começado, tornando a deixar o celular distante. 
— Eu quis você. Desde o início eu quis você. Desde o momento em que o vi naquele elevador. Mas... Você não me quis. Olhe para mim e para tudo que eu fiz para conseguir te ter e ainda assim você não me quer. É difícil admitir isso, dói. — de repente, sua expressão parece entristecida e eu não entendo mais nada. Eu não sei o que ela é.  
— Você é louca. — falo. 
— Sabia que eu me apaixonei por você? Fiquei até um pouco mal pelo que fiz a sua filha. 
— Você... — Hope! Minha pequena e fraca Hope. 
— Não foi minha intenção machucá-la daquela forma, era para ser um ferimento pouco grave. 
— Você machucou a Hope? Ela é só um bebê. Ela é uma criança. 
— Bom, você falando assim faz parecer que fiz algo tão cruel. Mas ainda bem que ela está viva, certo? Talvez eu me sentisse mal se algo pior tivesse acontecido. Já pensou? Pensou em ter que enterrar sua filhinha assim como fez com aquele bebê? 
— CALE A BOCA! — meu sangue ferve, novamente eu corro até ela, dessa vez pegando em seu braço de um jeito mais rude. E mesmo que doa, Barbara apenas ri. — Você é repugnante. E eu fico feliz por nunca ter lhe tocado, porque você jamais foi o suficiente para mim. Comparada a ela, você não é nada. É apenas um rostinho falso e eu desprezo pessoas assim. 
— Pense bem no que você fala, Justin, porque pode se arrepender por isso. 
— Acha que tenho medo de você? — fortemente, sem pensar nas consequências, empurro seu corpo e a vejo cair perto do sofá. Ela me encara assustada. — Você realmente não me conhece. Eu sou muito bom, mas quando sou ruim, ninguém é melhor do que eu nisso. E eu não vou machucar você por puro capricho meu. 
Rapidamente, pego-a do chão outra vez e sem hesitar, puxo seu corpo na direção em que a porta se encontra, jogando-a para fora do apartamento junto com sua bolsa e aquela medíocre faixa que estivera ao redor de sua barriga. Barbara fica me encarando caída no chão, sem saber o que falar, sem saber como agir. 
— Piranha! — solto uma risada ao pensar em Sky dizendo algo como isso. 
Não demora muito para que eu deixe o apartamento e entre no carro com pressa. Durante o caminho, tento ligar para Selena inúmeras vezes, porque apesar da raiva, eu estou feliz por saber sobre tudo isso. Eu nunca traí a minha mulher, eu nunca estive com nenhuma outra desde que a conheci, desde a nossa primeira noite. Sempre foi ela, somente ela. A única vez que paro antes de chegar ao destino é para comprar um buquê de rosas brancas. Não sei por que, mas enquanto caminho para longe do carro, já próximo à casa, sinto meu corpo nervoso, trêmulo. 
Ela irá acreditar em mim. Ela irá. 
Bato na porta três vezes e já sinto meu coração palpitar, porém quando observo a madeira se distanciar do batente esbranquiçado, meus olhos se desmancham. Não sei o motivo, mas algo toma conta do meu peito e eu só quero gritar. 
— O que você está fazendo aqui? 
Assim que pergunto, o rapaz pisca algumas vezes e eu logo vejo Selena se aproximar sorrindo. Todavia, ao me ver, sua expressão facial se torna descontente. 

Ela estava com ele. Ela e Pierre! 



Amor, você não sabe? Todas as lágrimas vêm e vão. Amor, você só tem que se decidir, porque tudo vai ficar bem.
Be Alright

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ALO ALO ☤∴ eu demorei (o que não é novidade), mas já cheguei com a atualização! Ainda não terminei de responder aos comentários, porém já estou o fazendo. Realmente tenho quase toda certeza de que faltam apenas dois capítulos para o fim de The Last Hope, ou seja, deve ser finalizada no 41, mas do 42 não passa. Não sei se vou conseguir postar amanhã (terça-feira), então acredito que tenha algo novo somente na sexta mesmo, se Deus quiser sem falta.
Sei que algumas devem estar pensando algo como "não acredito que o Justin não bateu nela". Mas a minha explicação é que isso iria contra os meus princípios. Não apoio homem agredindo fisicamente uma mulher, portanto, não seria hipócrita em fazer isso na história, independente da situação. Contudo, deixarei com que Selena cuide disso.
Bom, é só! Espero que gostem. Um beijao ❤️