Ela sorri, sorri de maneira inapropriada, de um jeito soberbo e
arrogante, ainda que encare o rosto angelical do meu bebê em seu braço
esquerdo, enquanto o direito se encontra esticado. Isso me paralisa, pois... Há
um revólver em sua mão erguida na direção em que me localizo, próxima ao berço
esbranquiçado, ouvindo a canção de ninar soar pelo ambiente extenso, recheado
pelos inúmeros materiais infantis que tornam o quarto de Kenai um pouco mais
cativante.
— Surpresa em me ver? — meus lábios tremem, estes agora
entreabertos, deixam a respiração descompensada fluir, largando meu corpo
trêmulo e fraco. — Como a vida parece boa com você, Selena. — os olhos azuis e
grandes de Barbara observam cada resíduo bem trabalhado do lugar, mesmo que eu
perceba o desespero em sua mão que treme constantemente. — Veja tudo isso, veja
tudo que você tem.
— Por favor, me devolva o meu filho. — insisto, medindo meu tom
vocal.
— Seu filho? — novamente, a ruiva move seu rosto e encara o bebê
enrolado na manta, preso em seu braço rígido, quase exausto do peso. — Ele é
meu, não seu.
Uma pontada forte é fincada em meu coração que, sem alternativa,
se mantém inutilmente sensível, incapaz de manusear qualquer ato contraditório
às palavras sem órbitas de Barbara. Ela sorri, parece insaciável, alternada e
incompreensível. Nada menos do que tão mal.
— Como você entrou aqui? — dou dois passos, mas meu corpo para
quando ela torna a segurar o revólver com mais firmeza, demonstrando a coragem
sobre sua fibra óssea.
— Nem mais um passo ou eu atiro em você. — Barbara olha para meu
pequeno amor, sorri enquanto o observa abrir os olhos e demonstrar nada mais do
que uma feição inexpressiva devido ao pouco tempo de vida. — Não foi tão
difícil. Você não costuma trancar a porta.
— Barbara, por favor, devolva o meu bebê. Não faça mal a ele.
Ela gargalha, não de maneira sutil, talvez um pouco longe disso.
Portanto, engulo o seco, sentindo o quanto isso faz mal ao meu corpo
enfraquecido. Sinto medo de algo acontecer ao meu filho.
— Por que você acha que eu farei mal a ele? — seu tom soa
abismado, quase como se sua intenção fosse pegá-lo para si, roubá-lo de mim. —
Ele é tão lindo, se parece tanto com o Justin.
— Barbara...
— Cale a boca. — quando ela diz, percebo a mudança brusca em seu
tom vocal, o que faz o desespero voltar a fazer parte de mim e escapar em forma
de lágrimas inseguranças, tão inseguras que quase é impossível demonstrar meu
medo através de atos frágeis. — Sua nova mamãe chegou, meu bem. — a mulher
sussurra para Kenai, que abre a boca subitamente e tenta mover seus bracinhos,
embora a manta impeça qualquer movimento brusco.
— Do que você está falando? — as palavras escapam sem medidas, ela
quer o meu bebê. — Me devolva o meu filho.
— Não bastou roubar o Justin de mim? Você tinha que roubar o meu
bebê também? — assustada, sinto meus olhos se arregalarem assim como a
dilatação extrema das pupilas negras de Barbara, que quase tomam conta do
clarão de suas orbes azuladas. — Ele não é seu. — ela fala de forma alta,
movendo a mão armada. — Sabe o que eu deveria fazer agora? Eu deveria estourar
essa sua cara sonsa. Você não faz ideia do quanto esperei por esse momento. Eu
lhe disse que iria se arrepender por tudo que me fez. Você quis me transformar
na vilã, então agora eu sou a vilã.
— Você é louca! — ela ri da minha acusação, mesmo que tenha soado
como uma pergunta desorientada ou, até mesmo, retórica.
— Ligue para ele. — devido ao fato de ficar em silêncio por algum
tempo, Barbara pigarreia e bate o pé no chão, assustando-me de um jeito
inconsequente. — Ligue agora para ele. — sua voz se exalta, mesmo que ela jogue
seu celular na direção e que eu estou apenas para que não me perca de vista. —
Diga a ele para voltar, que você está o esperando. — percebo o quanto me
encontro nervosa quando, enquanto tento digitar os números, meus dedos tremem
mais do que minha pernas, ainda que eu saiba o quanto é possível haver uma
queda caso eu não me apoie em algo.
Repouso o celular sobre a orelha, percebendo a atenção remota que
Barbara tem em meu filho, ainda que algo a faça dividir tamanha consideração
entre mim e ele, revezando-nos de pouco a pouco.
Após alguns segundos murmurando, orando para que Justin atendesse
ao celular, independentemente se algo o mantinha ocupado, ouço sua voz rouca
soar por trás da linha, quase conseguindo acalmar minhas pernas, embora eu
saiba que a situação não é de longe a mais compreensível.
— Quem fala? — ele interroga devido ao número desconhecido.
Barbara se interliga à voz alta que invade o ambiente.
— Viva voz. — a mulher exige, torcendo para que eu não demonstre
qualquer tipo de rebeldia. Contudo, sigo sua instrução e paro o aparelho sobre
a palma esquerda, ouvindo Justin questionar outra vez a respeito de tal ligação
repentina.
— Sou eu, Justin. — minhas têmporas doem, entretanto, começo a
observar e sentir todos os meus machucados, tanto os imaginários quanto os
reais.
— Selena? — existe preocupação em seu timbre, pois minha fala não
saíra como o esperado. Há subjeção e medo, ambos interligados num fio abundante
e impreciso. — Aconteceu alguma coisa?
— Preciso que venha para casa.
— Amor, não posso voltar agora. — ele solta uma risada, se
acalmando, pensando ser apenas um capricho adolescente meu.
— Eu preciso de você aqui... Agora. — há um silêncio, até mesmo
entre mim e a mulher perto da janela, dificultando a passagem de ar que poderia
limpar o quarto do seu perfume forte e enjoativo.
— Selena, o que está acontecendo? — o desespero torna a
transparecer, entretanto, sinto meu choro se evidenciar novamente, deixando com
que meu marido solte um gruído preocupantemente instável. — Você está bem? Meu
amor, me responda.
— Só venha para casa. — encerro a ligação de maneira que o faz
prever o quanto preciso de sua presença agora, criando um enigma dramático
entre uma frase e outra.
— Então, agora o esperamos.
Barbara balança seu corpo e cantarola algo baixo, como se quisesse
acalmar os rugidos infantis do meu bebê em seu colo, uma vez que este começara
a pedir por carinho e segurança, já que em seus braços talvez algo assim possa
não ser possível.
Justin Bieber POV.
02h00min PM.
Encaro o visor do celular parcialmente manchado pelos meus dedos,
tentando reconsiderar os números desconhecidos que se encontram associados ao
incomum comportamento pouco espontâneo de Selena. Nada mais arranca minha
atenção, mesmo que diversos barulhos ecoem ao redor da estreita sala em que me
encontro.
Repouso minhas mãos sobre a mesa e impulsiono meu corpo para cima,
sentindo uma sensação incomum passar pelas minhas veias e alcançar a espinha
das minhas costas, temporariamente relacionada à má intuição que vagueia pela
parte mais fértil da minha mente.
— Aonde vai, Justin? — Wesley, o senhor de cabelos grisalhos e
dono de uma face já envelhecida, pergunta no segundo em que passo pelo corredor
vago.
— Preciso ir para casa... Acho que está acontecendo alguma coisa.
Ele não interroga sobre a forma rápida que atuo enquanto vou em
direção à saída, procurando pelo meu carro estacionado perto de alguns
seguranças.
Dirijo de forma ágil e quando é possível, tento ligar para Selena,
ouvindo chamar diversas vezes até cair na caixa postal durante todas as várias
tentativas.
Paro o automóvel de qualquer forma, quase por cima da calçada,
colocando todas as minhas expectativas num capricho incomum, mesmo que isso não
seja de seu feitio. E quando piso no primeiro azulejo firme da sala e a
encontro vaga e silenciosa demais, percebo que algo realmente está acontecendo,
ainda que eu encare a cozinha extensa e ande pela escadaria de forma lenta,
escorregando minha mão pelo corrimão e chamando pelo nome da minha mulher.
— Selena? — não grito, mas meu tom soa alto o suficiente para que
qualquer pessoa presente escute. — Selena! — insisto e ao observar a única
porta aberta no corredor largo, caminho devagar, sentindo meu coração bater
forte, me deixando desentendido, porque realmente não compreendo o que me faz
estar tão preocupado.
Assim que passo pela porta, vejo Selena encolhida no centro do
quarto. Entretanto, corro de maneira normalizada em direção ao seu corpo e o
abraço, tentando confortar a locomoção de êxtase que se encontra estável por
cima de suas costas, como se algo pesado estivesse a machucando.
— Meu amor, o que foi? — observo seus olhos desmanchados por um
medo tão expressivo que me assusta. E quando sou capaz de observar o canto que
tanto rouba sua cautela, sinto todos os pelos do meu corpo subirem junto com a
lucidez da minha alma. — B-Barbara? — acredito que minha voz tenha sido
corrompida pela surpresa que sua presença me causa.
— Justin! — ela diz, demonstrando a felicidade que sente ao bater
seus olhos nos meus, independente da distinção que temos um do outro. — Não
acredito que finalmente estamos juntos.
Selena aperta meus braços e por conta de seu ato, finalmente
reparo o que há nas mãos da mulher. Além do revólver, lá está o nosso filho.
— Kenai! — eu sussurro audivelmente, permitindo que a ruiva encare
o bebê em seu colo.
— Então, este é o nome dele? — ela ri, abrangendo de uma
idealização inexistente. Parece criar uma lembrança fajuta em sua mente, apenas
para reconfortar os males que a atormentam. — Ele se parece tanto com você, tem
seus olhos.
— O que você faz aqui? — revezo meu olhar entre o revólver
apontado em nossa direção e os olhos azulados da ruiva alterada. — Barbara, me
dê o meu filho.
— Nosso filho. — ela tende a contrariar qualquer frase que possa
escapar das minhas cordas vocais, uma vez estas associadas à rudez e ao medo. —
Por que você fez isso conosco, Justin? Por que você preferiu ela? — Barbara
move sua mão e mira a arma na direção de Selena, contudo, passo seu corpo por
trás do meu, impedindo que qualquer mal a ameace.
— Você não sabe o que diz. —murmuro, provocando-a sem tamanha
intenção. — Barbara, você precisa de ajuda, você não está bem, não está
pensando direito.
— Eu estou ótima, nunca estive melhor. — percebo seus olhos
tremerem, o que indica a chegada de um choro imprevisível. — Olhe o que eu fiz
por você, por nós. Por que não quis a mim, Justin? Nós temos um bebê. — sua
atenção volta para a criança em seus braços e, de repente, seu choro é protestado
pelo quarto, deixando Selena inquieta.
— Não temos um bebê. — me esforço para não deixar meu tom rígido
transparecer tanto, pois ela não aparenta estar mentalmente bem, portanto, temo
que algo aconteça ao meu filho e a minha mulher. — Este filho é meu e de
Selena.
— PARE! — Barbara vocifera, irritando-se com minha frase anterior.
— Por que diz isso? Por que age assim? Não percebe que está me magoando?
— Barbara... — tento, mas ela caminha lentamente e eu observo cada
um dos seus movimentos.
— Se esse bebê não é nosso, então ele não deve continuar aqui. —
algo toma conta de mim, minha respiração se exalta quando eu a vejo andar em
direção à janela.
— Oh, meu Deus! — Selena quase grita, percebendo quais são as
intenções da ruiva.
— É uma mentira. Se ele não é nosso, não é de mais ninguém. —
Barbara inclina um pouco seu corpo, mas eu grito, grito tão alto que a vejo
virar o rosto e me encarar.
— Por favor, não faça isso. — suplico, quase ajoelhando-me. Tenho
a chance de admirar a pouca distância que há entre a janela e a criança em seu
colo. — Eu te imploro, não faça isso. Eu vou com você para qualquer lugar, eu
faço o que você quiser, mas não machuque o meu filho. Não faça isso, Barbara,
eu estou te implorando.
Sinto o choro começar a tomar conta da minha visão, tornando-a
embaçada, quase não me deixando ver as pessoas que me cercam. O choro de Selena
é alto, eu ouço seu desespero fundir-se às batidas extravagantes do meu próprio
coração amedrontado.
— Barbara... — eu me aproximo em passos lentos, percebendo que
minha mulher continua paralisada, temendo que algo aconteça caso resolva fazer
o mesmo. — Ouça... — enquanto ando com calma, ela me encara calada, prestando
atenção em cada movimento e fala que vem de mim. — Eu fico com você, se é isso
que quer. Nós vamos para onde quiser, para qualquer lugar do mundo, só... Não o
machuque.
— Para... Qualquer lugar comigo?
Evitando contradições ou hostilidades da pessoa cuja feição se
denomina aureamente instável, balanço a cabeça, concordando com sua especulação
previsível, uma vez que sua voz saltara com bastante expectativa, carregada por
idealizações.
A mulher, ainda com uma expressão impermeável a qualquer
alucinação real ou imaginária que talvez eu possa relatar, caminha pelo quarto,
indo em direção ao berço branco, pouquíssimos metros afastados de mim e Selena,
à qual mantém seu choro preso sobres as escleróticas avermelhadas e acabáveis,
desorientadas pela sensação de temor que a situação nos causa.
— Você promete? — antes de qualquer coisa, a ruiva me olha. E não
importa qual seja minha reação, ela ainda segura um álibi maldoso; percebo a
arma bem firme em sua mão direita já que a esquerda carrega Kenai com bastante
cuidado.
— Eu prometo.
Demora alguns segundos até que Barbara solta uma risada pequena e
inclina seu corpo, no intuito de repousar o bebêzinho em seu berço, com calma e
sorrindo como se aquela visão fosse de longe a mais adequada de toda a sua
vida. Entretanto, Selena agarra meu braço outra vez, sussurrando pequenas
partículas de vozes com desgastes pelo choro e agonia que sentimos parcialmente
iguais.
— Fique longe dele. — a ruiva se compõe rigidamente, agora
apontando o revólver na direção em que nos encontramos.
Eu olho para minha mulher e com esse mesmo olhar, suplico para que
ela se afaste de mim sem pestanejar por segundas opções.
— Tudo bem. — eu sussurro, percebendo o olhar confuso de Selena. —
Vai ficar tudo bem, eu só...
— Só o quê? Você não vai me deixar. — contudo, seu choro se
manifesta de maneira fluente.
— Eu prometi que iria proteger nosso bebê, eu prometi isso a você,
Selena. — olho através de seu rosto, assistindo à face insensível de Barbara. —
Vai ficar tudo bem.
Aos poucos, suas mãos se afastam de mim, acabando com o contato
físico que existia entre nós e todo o calor corporal visivelmente atípico.
Barbara solta uma risada e ultrapassa o corpo de minha Selena,
empurrando-a sem cautela e temor, mesmo que isso afete nosso acordo pouco
compreensível. Contudo, passo pela porta do quarto enquanto percebo que a ruiva
faz o mesmo, acompanhando cada andadura que cometo durante aqueles poucos
minutos que gasto para alcançar o primeiro piso e avistar meu carro estacionado
de maneira largada na calçada.
— Entra. — olho para trás e vejo Selena parada na porta, nosso
filho está em seus braços. Eu queria poder conseguir ler sua mente e acalmar
seus pensamentos assombrados pela sensação de perda.
Afundo meu corpo no estofado do banco e observo os movimentos
ágeis que Barbara faz até sentar-se ao meu lado, por trás do volante. Ouço sua
risada histérica ecoar no momento em que o carro se movimenta, me
proporcionando uma visão embaçada de Selena, desolada, ainda parada perto da
porta.
— Eu não acredito. — a mulher diz, agora pisando fundo no
acelerador e correndo inutilmente pela estrada. — Eu finalmente consegui!
Estamos juntos. Nós dois.
Totalmente abismado, viro meu rosto em direção oposta, à esquerda,
encaro o sorriso extenso na boca melada de batom vermelho, uma cor escandalosa
assim como seu olhar maldoso que escorre pelo meu corpo a cada segundo que
passa.
— Qual é o seu problema? — pergunto, uma vez que tento esplandecer
o quanto isso me deixa surpreso. Essa situação, a sua obsessão por mim. — O que
você quer comigo?
— Eu quero você. Eu sempre quis você. — sua resposta soa óbvia,
ainda que minhas dúvidas não sejam completamente esclarecidas. — Será que não
percebe? Desde a primeira vez que eu o vi, eu quis você.
— Por quê?
— Porque eu te amo.
Minha boca se abre automaticamente e a vontade de rir é imensa.
Talvez o fizesse caso as circunstâncias não fossem sérias e arriscadas.
— Barbara, eu realmente não faço ideia do que você sente por mim,
mas... Isso não é saudável, não vamos ficar juntos.
— Como? Como não vamos ficar juntos? Você me prometeu. — ela bate
as mãos no volante, uma delas ainda segura o revólver. — Mentiu para mim?
Eu me calo, mas percebo a ventania debater-se em meu rosto de
maneira insana.
— Barbara, vá devagar. — com cuidado, encarando a estrada bastante
cheia, peço, sabendo que ela não concordará com isso. — Barbara, estamos indo
rápido demais.
— Você mentiu para mim, você nunca teve a intenção de ficar
comigo. — ela berra enquanto se esquiva das palavras que proferi. — Se eu não
terei você, ela também não terá.
Então, tudo acontece devagar demais, como um filme em câmera
lenta, como se eu estivesse numa velocidade diferente do que as coisas
realmente estão acontecendo. Tenho uma admiração excessiva pela parte onde noto
uma partícula de suor escorrer pela lateral do meu rosto assim que sinto meu
coração dar uma forte batida, justo no momento em que encaro as pessoas através
do pára-brisa. A ardência corrói cada átomo do meu corpo, e por descuido, fecho
os olhos, perdendo completamente o acontecimento que veio a seguir, assistindo
todo o alvoroço após manter-me muito bem acordado, percebendo gritos constantes
fluírem por meio de um paradoxo.
Tento me mover e posso reparar uma dor que nunca senti antes. Cada
um dos meus dedos se desloca de uma maneira significante, é como se eu tentasse
provar a mim mesmo que ainda tenho controle do meu corpo, que ainda há vida
dentro de tal recipiente imerso ao chão rodeado pelos diversos vidros que
também machucam minha pele, que me deixam quase imóvel.
— Você está bem? Consegue me ouvir? — a voz é desconhecida e soa
abafada, quase impossível de ser compreendida. Talvez seja o efeito chicote. —
Você consegue me ouvir?
Eu consigo e por isso tento mover minha cabeça, esta dói logo em
seguida.
— A ajuda está a caminho, não durma. — novamente, penso que aquela
pessoa tenta me distrair de algum modo.
— Selena! — minha voz escapa amarga, como se algo estivesse
fincado em minha garganta, impedindo-me de expor o que tanto preciso dizer. —
Onde está Selena?
— Senhor, vai ficar tudo bem. — olho ao meu redor e reparo a
quantidade de pessoas que há em volta do perímetro em que me encontro. Quando
tenho uma visão melhor da cena, me vejo preso. Eu ainda estou no carro, eu
ainda estou bem.
Pisco com força, a umidade escapa através do medo que exponho ao
olhar para o banco à esquerda e encontrá-lo vago, porém arrebentado de um modo
anormal. Eu sigo a trilha de resíduos afetados pelo acidente que aconteceu,
enxergando um corpo atravessado no pára-brisa. O sangue escapa de uma das
partes machucadas, poderia encher o veículo em que estamos.
— Senhor, você ainda pode me ouvir? Eles chegaram. — com
dificuldade, movo meu pescoço e observo que meu corpo está sendo cuidado pelo
cinto de segurança. E através de algumas pessoas, vejo a ajuda chegar. — Você
vai ficar bem.
Sinto cada movimento cauteloso que meu corpo sofre ao ser retirado
do carro e colocado sobre uma maca, e com rapidez, essa se move em direção à
ambulância.
— Consegue me ouvir? — quando uma mulher questiona, olhando
diretamente em meus olhos doloridos pelas lágrimas que insistem em dizer o
quando sinto medo, balanço a cabeça. — Pode me dizer qual é o seu nome? Você
consegue fazer isso?
— J-Justin. — ela sorri quando minha voz escapa de maneira
simples.
— Você tem uma família, Justin? — percebo que isso é preciso, ela
tenta me manter acordado. Ela tenta me manter bem.
— Tenho.
— Tem filhos?
— Tenho.
Sinto um forte cheiro de metanfetamina, e ao me distrair, algo é
colocado em meu rosto, ajudando-me a respirar melhor.
— Para quem devemos ligar? Você tem alguém para onde correr? — ela
prossegue, durante todo o tempo em que me ajuda com todos aqueles inúmeros
aparelhos respiratórios.
— Selena.
De repente, um sorriso transparece naquela feição cuja expressão
aparentava ser abatida. E eu encaro as luzes fluorescentes ao meu redor,
sentindo meu corpo balançar durante o tempo em que me encontro dentro do
veículo, ainda deitado na maca, ainda mal o suficiente para sequer conseguir
movimentar meus dedos.
Algumas horas depois.
04h10min AM.
Mesmo de olhos fechados, consigo ouvir a sintonia alta que ecoa de
seu choro desesperado, enquanto sinto o peso do seu corpo ao meu lado,
aquecendo minha mão com seu aconchego afetivo. Aos poucos, abro os olhos, me
arrependendo quando o clarão percebido ao redor do quarto afeta minhas orbes.
Ela levanta a cabeça e me olha nos olhos, expandindo sua
melancolia ao me ver em tamanho estado, talvez não tão crítico.
— Você acordou! — Selena impulsiona seu corpo e me aperta num
abraço impensável, causando uma forte dor em meu tronco afetado pelo acidente.
— Ai! — resmungo.
— Me desculpe. — a morena se afasta um pouco, mas não antes de
beijar a ponta da minha testa gélida. — Você me deu um baita susto. — tento me
mover um pouco, nem que seja uma parte de mim, porém há dores musculares. — Por
favor, não me diga que você perdeu a memória e não se lembra de mim.
— É claro que eu me lembro de você, bobinha. — solto uma risada
curta, percebendo a feição tranquila de Selena se intensificar. — O que
aconteceu? Há quanto tempo eu estou aqui?
— Há horas, por sorte não se machucou muito. Apenas fraturou uma
das pernas, além dos machucados faciais. Pensei que fosse te perder para
sempre. — ela chora outra vez, tornando a me abraçar. — Não faça isso de novo.
Seus lábios repousam nos meus, um beijo que dura por quase sete
segundos, me deixando ser dominado pelo amor que recebo nesse exato momento.
— E Barbara? — enquanto isso, Selena alisa meu rosto, parece
aflita ou agonizada.
— Disseram que ela está na UTI. — sua voz ecoa baixa. — Parece
grave.
— Ela estava indo muito rápido, parecia nervosa e emocionalmente
frustrada. Quando eu me dei conta, tudo já havia acontecido.
Selena respira fundo e se levanta.
— Verei se você já pode receber visitas, há muitas pessoas
querendo te ver.
— Hã... Há pessoas lá fora? — a morena balança a cabeça, dobrando
os lábios e sorrindo de forma gratificante.
Não demora muito para que eu consiga ver o corpo miúdo da minha
mãe passar pela porta numa velocidade incomum, capaz de me assustar, mas me
alegrar ao mesmo tempo.
— Nunca mais faça isso. — ela quase grita, aproximando-se de mim
para um abraço caloroso. — Eu não posso perder você também.
— Eu estou aqui. — falo, com a intenção de reconfortá-la. — E
estarei por mais mil anos.
— Não se atreva a ir embora antes de mim. — compreendo suas
palavras na entrelinha, o que me deixa desolado. Contudo, seguro suas mãos
trêmulas e as beijo com calma.
— Pare com isso. Gatos têm sete vidas, não se lembra? — ela
gargalha e dá um leve tapa em meu ombro, afundando-se num clima melhor.
Selena Gomez POV.
Três dias depois, 08h00min PM.
— Estou com tanta saudade das minhas garotas. — Justin resmunga
enquanto dou um jeito em seus pequenos ferimentos faciais. — Com quem elas
estão?
— Com sua mãe. — ele apenas balança a cabeça e encara as muletas
perto da cama. — É por pouco tempo, amor. Só até sua perna ficar melhor.
— Eu sei, mas eu me sinto inútil.
— Deixe de bobeira, Justin, você sofreu um acidente. — aviso-o,
agora mantendo minha voz um pouco mais rígida para colocar em sua mente a
subjeção óbvia. — Enquanto isso, você precisará ficar de repouso.
Com minha ajuda, ele se levanta da cama e para as muletas abaixo
dos braços, todavia, dá alguns passos para se acostumar com a novidade. Não
demora muito para que saiamos do quarto após recolhermos nossos pertences.
— Até quando ficarei com isso? O médico te disse?
— Dois meses, talvez até menos, se você se cuidar. — olho para os
lados, encaro as pessoas que andam pelos corredores do hospital.
"Tira essa coisa de perto de mim."
Eu reconheço a voz, Justin também, não é à toa que seus passos
cessam e seus olhos encaram a porta que, aos poucos, se abre e revela a
estatura de uma mulher de pele morena e cabelos claros, pouco acima dos ombros.
Seus braços seguram uma manta que julgo haver um pequeno bebê envolvido.
— Tudo bem, não chore. — a voz da mulher ecoa pelo lugar,
certamente conversando com a criança que mantém um choro alto e agonizante.
Parece sentir dor. Ou fome.
Quando seus olhos sobem, ela paralisa. Não me lembro de tê-la visto
alguma vez, mas não é difícil perceber o reconhecimento que há quando encara
meu marido, que também aparenta estar surpreso com a admiração excessiva que a
loura relança. Mas, quando se passa algum tempo, ela balança seu corpo com o
intuito de acalmar a criança, que ainda não silencia o choro alto e preciso.
Seu físico senta-se à cadeira mais próxima e tira a manta do rosto do bebê,
revelando sua feição avermelhada, quase queimada pela inquietude.
— Tudo bem, querida. — ela torna a dizer, novamente tentando
acalmar a criança.
— Ah, oi? — Justin tenta segurar meu braço, porém sou mais rápida
ao ponto de caminhar na direção dos bancos, arrancando novamente a atenção da
loura cuja feição se assusta devido à aproximação. — Desculpe, mas você é
parente da Barbara?
— Amiga. — a mulher responde, revezando seu olhar entre mim e a
criança chorosa. — Sou a melhor amiga.
— Esse bebê é dela? — com cuidado, observo seu pescoço se mover
positivamente. — Está sentindo alguma dor?
— Está com fome. — ela responde sem pestanejar. — Barbara não quer
vê-la, nunca a amamentou. Ela diz que essa não é a filha dela. Fica gritando
quando eu tento fazê-la ao menos segurar a criança. Eu já não sei mais o que
fazer, venho dado leite integral, mas isso tem provocado um tipo de enterite
alérgica nela. Está agredindo seu estômago.
— Eu tenho leite materno. — aviso.
— Selena! — Justin exclama, ainda por trás de mim.
— Posso amamentá-la. — eu me interligo à situação, ignorando os
pensamentos egoístas de Justin, que aparentemente não concorda com o que
proponho.
— Faria isso? — ela se levanta rapidamente e me encara com
proporção.
Contudo, estico meus braços. A mulher demora um pouco para me
entregar a criança, mas quando o faz, sinto uma sensação incrível ser circulada
em meu estômago. Encaro a feição vermelha do bebê e me afundo em seu choro
alto, sentindo como se ele estivesse cantando para mim. Portanto, solto uma
risada, me sentindo maravilhada em ver essa criaturinha mover seus pequenos
bracinhos e implorar por comida.
Ao me sentar, Justin solta um ruído exausto e se aproxima,
tentando se acostumar com meu ato propício ao bebê. Desde o momento em que
abaixo a alça da minha blusa e me permito amamentar aquela criança, a loura
olha a situação sorrindo.
— Nossa! Como você está faminta. — falo, percebendo o desespero da
criança ao sugar o leite. — Cuidado para não se engasgar. — seus olhos estão
esbugalhados na direção dos meus, como se me entendesse e me admirasse
completamente. — Qual o nome dela?
— Ainda não tem. — a mulher responde, soltando uma risada curta.
— Não tem nome? — a voz de Justin parece abismada. — Quanto tempo
ela tem de vida?
— Um mês.
— E não deram um nome a ela? Não é registrada? — eu falo um pouco
aflita, vendo a negação explícita no rosto dela.
— É como eu disse, a Barbara não quer ver a criança. Eu venho
cuidado dela desde o nascimento, mas não é uma coisa fácil. Cuidar de um
recém-nascido requer muita paciência e dedicação, e além disso, eu tive que
tentar ajudar a situação mental da Barbara, ela não está bem.
— Eu percebi. — Justin rebate, com deboche em sua fala. — Ela
precisa de ajuda profissional. Aquela mulher apontou uma arma para mim e para a
Selena, ela quase atirou meu filho do segundo andar. E no fim, nem sei se o
acidente foi destinado.
— Proposital ou não, eu já não faço ideia do que vai ser quando
ela sair daqui. Agora com toda essa história de cadeira de rodas e... — antes
que ela pudesse finalizar, eu interrompo com um gruído assustado:
— Cadeira de rodas?
— Não lhes disseram? — eu e Justin nos entreolharmos, confusos com
a situação. — Quando ela bateu o carro, não estava com cinto de segurança e seu
corpo foi arremessado em direção ao pára-brisa, o que a fez quebrar a vértebra.
Ela não poderá mais andar, além de todo o estrago que os vidros fizeram ao seu rosto...
Esse acidente acabou com a Barbara.
Percebo Justin abaixar seu olhar e mirar, por diversos segundos, o
chão límpido. Talvez pense que isso poderia ter acontecido com ele, caso não
tivesse se protegido da maneira que fizera. Isso parece atormentá-lo.
A bebê afasta sua boca do meu seio e tosse logo em seguida, me
permitindo subir a alça da blusa e colocar seu corpo numa posição melhor para
fazê-la arrotar, batendo, com leveza, em suas costas macias.
— Passará a noite aqui? — questiono. A mulher apenas balança a
cabeça como forma positiva, mas também agradecendo pelo que fiz. — E ela?
— Terá que ficar aqui comigo.
— A Barbara não tem nenhum familiar? — não me sinto curiosa,
apenas quero que essa criança seja cuidada do jeito coerente.
— Eu sou tudo que ela tem. Barbara é húngara, sua família não mora
aqui e ainda que morasse, não acho que eles iriam querer saber alguma coisa
sobre ela. A situação é delicada.
— E o pai da criança? — Justin se manifesta, a loura balança os
ombros. — Ela ao menos sabe quem é?
— Ela sabe. — ela diz invicta. — Só não quer dizer quem é. Insiste
em falar que tem um filho com você, Justin, e que esse não é o bebê dela.
— Como é que sabe o meu nome? — o louro questiona intrigado,
olhando no fundo dos olhos da loura que, nesse momento, respira fundo e abaixa
os ombros pouco largos. — Você é aquela amiga que recebeu o Ryan há alguns
meses, não é mesmo? Foi você quem deu aquelas fotografias à Selena.
— Meu nome é Chantel. Eu sou amiga da Barbara desde... Desde que
eu me lembro. Tentei fazê-la parar com essa obsessão toda que acabou suprindo
por você, mas não funcionou, até hoje não consigo entender qual era o objetivo
dela. Eu acho que ela só queria provar que conseguia tudo aquilo que desejava e
isso a cegou. Barbara não conseguiu aceitar que, pela primeira, alguém não
havia caído por ela. Então, ela tornou isso um pouco pessoal demais e agora
está onde está.
— Eu não sei o que dizer. — depois de algum tempo, falo. Nada
agora consegue roubar minha atenção como essa criança faz. — Justin... Acho que
devemos ficar com ela essa noite. — ele arregala seus olhos.
— Selena, isso não é uma boa ideia.
— Ela não pode dormir aqui, Justin, é um hospital. Não está
aquecida e logo ficará com fome de novo. Além de que ela precisa tomar um
banho, vestir algo mais quente.
— Isso não é um problema nosso.
— É claro que é um problema nosso.
— Você por um acaso se esqueceu de quem essa criança é filha? —
viro meu rosto e volto a encarar o vácuo. — Aquela mulher quase destruiu nossas
vidas, ela quase conseguiu nos separar. Ela machucou nossa filha e quase fez o
mesmo com o nosso bebê.
— Eu sei, mas ela é só uma pessoinha e... — relaciono-me ao bebê
em meus braços. — Não posso fingir que vai ficar tudo bem. Eu não vou conseguir
dormir sabendo que essa criança está aqui. — ele apoia as muletas na parede e
passa as mãos nos cabelos. — É só por uma noite.
— E o que acontecerá depois? E as outras noites? — seu tom soa
rústico, no momento, nos esquecemos da presença de Chantel. — Não percebe que
isso não fará diferença?
— A gente pode ir atrás de algum familiar da Barbara. Você
consegue fazer isso, você sabe que sim. Só não... Não tente fechar seus olhos
para isso, por favor. Ela é só um bebê.
Ele fica em silêncio por algum tempo, olhando no fundo dos meus
olhos e, às vezes, encarando a criança em meus braços, agora adormecida.
— Isso te fará bem? — constantemente, balanço a cabeça. — Como
você quiser, então.
Contudo, ele se levanta com certa dificuldade e volta a pegar seu
objeto de apoio. Aperto a pequena criaturinha em meus braços e olho para
Chantel, cuja expressão parece fechada, porém, entristecida.
— Eu vou levá-la para casa, se você deixar. Vou trazê-la amanhã,
enquanto isso, Justin vai tentar entrar em contato com algum parente da
Barbara. Talvez eles possam ajudar, não dá para essa criança ficar assim, sem
estrutura e cuidados.
Ela sorri.
Aproximadamente meia hora depois.
— PAPAI? — as garotas gritam no segundo em que o veem adentrar na
sala, sorrindo e entregando a saudade que sentiram.
— Meus pequenos rouxinóis. — Justin se joga no sofá e recebem os
abraços apertados de Sky e Hope, também se alegrando com as risadas e beijos
que são acompanhados da sensação alegre que domina o ambiente. — Cuidado com o
pé do papai.
— Está doendo muito? — Sky questiona, encarando o rosto de Justin.
— Não, meu amor, só quando tocam com descuido.
Pattie se aproxima com uma mediana almofada e a coloca por baixo
do pé engessado do filho, mantendo-o reto e assegurado.
— Mamãe, te quem é esse
bebê? — assim que Hope questiona, os demais olham na direção em que me
encontro, apurando tamanha atenção no pequeno corpo que mantenho envolvido em
meus braços.
— Ela passará a noite com a gente, tudo bem? — eu a respondo com
cuidado, agora me sentando ao lado de Justin e percebendo a curiosidade que há
nas garotas. Elas param ao redor e encaram a criança quase adormecida, todavia,
que vai abrindo seus olhinhos aos poucos.
— Qual é o nome dela? — no momento em que Sky interroga, um fraco
espirro soa, causando-nos risadas constantes. — Ela é tão engraçadinha e fofa.
— Ela ainda não tem um nome. — aviso, reparando a atenção que
Pattie coloca em mim. — Onde está Kenai?
— A gente fez ele tormir.
A vovó teixou. — a menorzinha
responde, realmente feliz com sua confissão. — Ela vai tormir no bercinho to
Kenai? A Hope acha que cabe, cabe muito.
— Vamos ver? — elas balançam a cabeça e esperam com que eu me
levante. Logo caminhamos em direção ao segundo piso, rindo dos barulhos
infantis que a criança ecoa.
Apoio seu corpinho mole ao lado do meu bebê desacordado. Um
sorriso calmo toma conta do meu rosto, principalmente quando eu vejo as garotas
acariciarem a bebê, falando pequenas e lindas palavras de conforto,
assegurado-a de qualquer mal existente.
— Tudo bem, garotas, está na hora de dormir. — Pattie avisa.
— Ah, não. Só mais um pouquinho, vovô. — pede Sky, emburrando sua
face límpida e meiga.
— Nem mais um pouquinho.
— Cinco minutinhos? Tois
minutinhos? Um minutinho? — Hope implora durante o tempo em que sua avó pega
seu corpo, abraçando-o e o guindo em direção oposta, logo deixando o quarto.
Aninho meu bebê e o acaricio por um tempo, entregando todo o meu
amor, depositando a felicidade que tenho ao aproximar nossos corpos. Eu amo
ouvir sua respiração, sentir as batidas de seu pequeno coração e perceber que
ele está tão próximo a mim.
Sinto minha cintura ganhar um calor excessivo, uma vez que
pressinto a respiração calma de Justin fundir-se ao redor do meu pescoço. Isso
me faz feliz, me faz sorrir.
— Oi, garotão! Papai sentiu saudades. — ele se apoia no berço e
pega nosso bebê dos meus braços, segurando-o com cuidado e afeto. — Como você
está crescendo rápido. — solto uma risada alta, vendo a cena que eu tanto
idealizei em anos. — Tem uma estranha na sua cama, não é mesmo?
— Ei! — levemente, repouso minha mão em seu ombro, virando meu
olhar à criança acordada dentro do berço. Ela move suas pernas constantemente.
— Veja como ela é linda. — Justin olha para o bebê pouco próximo.
— É.
— Justin, é só uma criança, não vai nos fazer mal. Não é um
monstro.
— Mas é filha de um.
— Pare de culpá-la por uma coisa que ela não fez. — meu tom é
calmo, mas soa tão suplicante. — Estou feliz por trazê-la a nossa casa. Agora
eu acho que preciso dar um banho nela, está bem suadinha.
[...]
Passo pela porta do quarto enquanto amarro os cabelos, encarando o
chão e contando os segundos para me deitar, me assegurar em algo firme e
protetor. Justin está sentado com o notebook em suas pernas, ao lado, na
pequena mesa branca, há uma xícara com café quente.
— Eles finalmente dormiram. — eu digo após me sentar sob os
cobertores. — Eu estou exausta.
— Comeu algo? — ele parece preocupado, embora encare algo no
monitor e logo anote alguns dos números numa caderneta qualquer.
— Não, eu só preciso ter uma longa noite de sono. — respondo. — O
que está fazendo?
— Eu estava tentando achar alguma coisa sobre a Barbara, Scooter
me enviou dois anexos. Encontrei alguns números de referências. Vou ligar
amanhã, talvez ajude em algo.
— Acha que pode ser algum familiar?
— Certamente. — de forma ágil, Justin abaixa a tela de seu
notebook e o coloca num lugar qualquer, tornando a se deitar na cama de um modo
mais confortável. — Está cansada? — rio do jeito maldoso que há em sua
pergunta, ele sorri ironicamente e repousa a mão direita sobre minha coxa mais
próxima.
— Amor! — falo baixinho, mas o repreendendo, embora goste quando
momentos assim aconteçam.
— Passei três dias num hospital, acho que mereço uma recompensa
por isso. — reparo seu rosto se aproximar com delicadeza. — Hum? Hein?
— Você não se cansa? — imediatamente, Justin balança sua cabeça
indicando a negativa como resposta. — Vá dormir.
— Não sem antes te foder bem gostoso nessa cama. — a gargalhada
escapa das minhas cordas vocais, por mais que sua frase tenha fluído chula o
suficiente para me fazer sentir um rubor nas bochechas. — Venha, sente-se em
mim.
Sem pressa, apoio meu corpo nas mãos descansadas sobre a cama,
movimentando meu físico rápido o bastante para conseguir me estabelecer por
cima dos quadris do louro, que nesse momento, pressiona minha cintura com suas
duas mãos aquecidas por conta da noite esplêndida.
— Você parece tão linda. — ele comenta, observando-me de baixo. E,
aos poucos, sinto seus dedos desfazerem meus cabelos do coque que tanto me
deixava numa monotonia simples. — Eu tenho tanta sorte por ter você.
— Eu ainda estou amamentando. — alego ao perceber suas mãos terem
a intenção de pressionar meus seios por baixo da camisola de seda rosada.
— E seu gosto me fascina. — pressinto seu ânimo ser menos
calibrado, no entanto, movo meu quadril e Justin aperta seus olhos, sentindo um
formigamento excessivo entre suas pernas. — Não vai me deixar te chupar?
— Eu tenho o prazer de me sentar na sua cara.
— E você está esperando o que, senhora Bieber? — concluo seu
pensamento final ao me levantar um pouco e, cautelosamente, escorregar a
calcinha fina por minhas pernas agora trêmulas, sabendo que Justin observa cada
um dos movimentos que faço enquanto suas mãos, de forma ágil e precisa,
arrancam a camiseta escura de seu corpo, me dando a visão de seu tórax com
alguns hematomas.
Puxo sua calça de moletom com cuidado para que nada afete a perna
ferida e engessada. Contudo, observo Justin massagear seu membro sob a cueca,
esperando meus próximos movimentos, que são avulsos no momento em que afasto a
camisola da minha pele, jogando-a num canto qualquer.
Suspendo meu corpo numa altura considerável, passando cada uma de
minhas pernas em um lado de sua cabeça apoiada no travesseiro, sentindo suas
mãos pressionarem meus quadris e suprindo um prazer elevado ao ser preenchida
pela ponta quente e úmida de sua língua, me molhando completamente, não só no sentido
metafórico da palavra, porém também no sentido de me fazer amolecer
completamente, causando os diversos e assombrosos calafrios ao redor do meu
corpo. E imediatamente, rebolo em sua boca, apertando minhas mãos na cabeceira
da cama e não conseguindo mais prender os gemidos em minhas cordas vocais, eles
são dissipados de mim em gritos baixos, quase irreconhecíveis. Percebo os
movimentos rápidos de sua língua em mim, tocando cada ponto prazeroso do meu clitóris
e, calorosamente, puxando-o de forma deliciosa, sugando a região ao seu redor,
me molhando ainda mais com sua forma gostosa de me chupar.
— Não para. — exijo, ainda movimentando com mais frequência meu
corpo, sentindo cada vez mais meu orgasmo a caminho.
Em disparada, repouso minhas mãos em seus cabelos atrapalhados,
apertando cada fio entre meus dedos rígidos, sentindo meu sangue escorrer por
minhas veias de maneira elétrica, até que minhas pernas sofrem uma ardência
súbita através da minha respiração apta.
Subo meu corpo e observo os lábios de Justin cobertos pelos
resíduos do meu gozo fervente. Ele range seus dentes primários sobre a região
afetada, lambendo meu gosto de maneira prazerosa enquanto sorri. E pela
primeira vez, isso não é algo que me constrange.
O louro se inclina, sentando-se corretamente sobre a cama,
apoiando as costas na cabeceira e movendo a mão, como se precisasse,
incontrolavelmente, que eu me aproximasse novamente.
— Venha. — sua voz escapa manhosa, entretanto, suas mãos abaixam a
cueca num só movimento, revelando sua ereção aos meus olhos delicados.
Antes de qualquer coisa, beijo seus lábios entreabertos, prontos
para mim, dessa vez sentindo suas mãos serem pressionadas em meus cabelos
soltos, guiando-me em direção ao seu quadril repousado sobre a cama.
Justin segura a estrutura de seu pênis enquanto o encaixa em minha
boca, contudo, durante esse tempo, ouço algumas palavras sujas escaparem de sua
boca à medida em que movo minha cabeça e transformo tais momentos em algo
desesperado, chupando cada célula de sua glande banhada pelo pré-gozo.
— Você chupa como uma vadia. —murmura ele, deixando transparecer
sua satisfação em cada murmuro que escapa de suas cordas vocais. Suas mãos
pressionam minha cabeça, fodendo minha boca de forma precisa e desesperada. —
Chega, você me deixa louco de tesão.
Solto
uma risada sarcástica, porém sem afastar a satisfação que sua frase me causou.
Sobretudo, levanto meu corpo e massageio meus seios, sentindo-os um pouco
doloridos.
Ele me pega de um jeito rápido, posicionando-me em seu colo,
poucos centímetros distante de seu pau duro. Antes, solta aquela risada safada,
aproximando seu rosto e passando a ponta da língua em meus mamilos, um de cada
vez, simultaneamente e com delicadeza, talvez mordiscando-os por alguns
segundos, sem me causar qualquer tipo de dor.
Masturbo-o com minha mão direita, enquanto olho para a feição
gostosa que há no rosto do meu marido.
Logo mais, ergo meu corpo e sinto seu pênis em minha entrada, que
se arrasta algumas vezes antes de ser afundado totalmente, deixando-me
desorientada e vulnerável. Justin segura minha nuca e une nossos rostos,
conseguindo envolver ambas as respirações alteradas e sinônimas. Imediatamente,
rebolo em seu corpo e as investidas se tornam frequentes, assim como o barulho
que é criado quando nossos sexos se atraem.
— Quer levar uns tapinhas? — sua pergunta me causa um ânimo ainda
maior, contudo, não consigo me esquivar de uma risada sapeca enquanto movo
minha cabeça assim como meus quadris, simultaneamente e com rapidez.
Sinto sua palma esquerda ser repousada sem dó em minha bunda, essa
ardência será capaz de deixar certa região marcada na manhã seguinte.
— Me come com força. — sussurro e me arrisco a dizer que isso o
deixa ainda mais animado, pois por baixo de mim, sinto seus quadris se moverem,
tornando nosso sexo ainda mais rápido e prazeroso.
Novamente, alcanço meu ápice, quase debruçando meu corpo sobre o
seu, porém espero pelo momento em que observo suas veias do pescoço se
evidenciarem e um rugido sair de sua garganta após as três últimas metidas
rápidas. Justin fecha seus olhos e sorri, puxando meu corpo e me deixando
repousar sobre este.
— Eu sou louco por você. — seus toques leves por cima de minhas
costas me fazem depositar todo o amor que sinto por ele na maneira como
respiro. — Se algum dia eu achar que me esqueci o porquê de te amar tanto, seja
meus olhos e me faça enxergar o motivo pelo qual me apaixonei por você todos os
dias.
Seus lábios se encaixam perfeitamente nos meus, assim como cada
parte do meu corpo se encaixa no dele.
Na manhã seguinte.
10h20min AM.
Seco cada junta de seu corpo mole e o visto de maneira
confortante, tampando seus pezinhos avermelhados e as mãozinhas macias.
Contudo, observo a feição clara de Kenai e o quanto seus olhos aparentam estar
exaustos pela noite mal dormida devido às dores abdominais que sentira.
Após amamentá-lo, repouso a criança sobre a manta centralizada na
cama, bem ao lado da pequena bebêzinha de cabelos claros, quase alaranjados.
— Durmam bem, meus anjos. — revezo meu olhar entre as duas
criaturinhas que, desde então, mantêm os olhos fechados, talvez agora se
afundando num sonho bom.
Desço as escadas com cautela e já posso ouvir as vozes altas,
todavia abafadas, ecoarem do cômodo pouco afastado. Entretanto, ao passar pelo
corredor principal, vejo as crianças sentadas ao redor da mesa, acompanhadas
pela presença contente de seu pai, uma vez que o mesmo permanece com um jornal
atual em suas mãos grossas enquanto Pattie prepara algumas panquecas.
— Bom dia! — digo de forma alta, arrancando a atenção de cada um.
Minhas garotas sorriem e me abraçam depois de se aproximarem. — Hmmm. Que
cheiro bom.
— Bom dia, querida. — diz Pattie.
— Bom dia, meu amor. — Justin fala no minuto em que me inclino e beijo
seus lábios melados pelo café dócil preparado por sua mãe. — Demorou a descer.
— Eu estava cuidando das crianças. — sento-me ao seu lado, Pattie
me serve e eu sorrio agradecendo-a pela gentileza. Enquanto isso, reparo a
alegria de minhas garotas.
— A bebê ficará conosco até que dia? — a lourinha interroga,
depois beberica seu leite puro.
— Hoje a Fuinha irá embora. — meu marido, ainda concentrado numa
notícia popular, responde, não dando importância ao assunto.
— Fuinha? — questiono, ele me olha um pouco sarcástico.
— Ela não tem um nome e eu preciso chamá-lo por alguma coisa.
— O que é Fuinha? — a menor pergunta, lambendo seus dedinhos sujos
por mel.
Pattie ri.
— Um bichinho. Bastante fofo, por sinal. — o louro diz
indiferente. — Tenho que me encontrar com o Charlie, ele está cuidando do caso
da Barbara. Portanto, mais tarde nos encontramos no hospital.
— Eu... Eu acho que devo tirar um pouco de leite, não quero
deixá-la com fome. — olho para minhas mãos, temendo a insistência severa que há
nos olhos castanhos de Justin. Ele suspira.
— Selena, irá à praia conosco? — minha sogra me surpreende,
entretanto, saltito sobre a cadeira após perceber sua voz direcionada a mim.
— Oh, não. Eu tenho que ir à casa da Ashley, prometi ajudá-la com
os preparativos para a festinha dos Rosinhas. O primeiro aniversário deles está
chegando. — digo. — Mas se divirtam, à noite podemos sair para comer fora. Quem
sabe uma pizza.
— A Hope ama pizza. — minha garotinha comemora, agora alimentando
os porquinhos que pulam sobre o chão com o intuito de pegarem as panquecas
sobre a mesa.
— Ótima ideia! — celebra Pattie. —Então, vamos garotas?
Sky e Hope deixam a mesa e me beijam, posteriormente, beijam
Justin, dizendo que sentirão saudades enquanto estarão fora, mesmo que seja
apenas por poucas horas.
Assim que nos encontramos sozinhos, o louro dobra o jornal e o
repousa sobre a mesa, ao lado das xícaras vazias e dos pratos com resíduos de
mel. Sobretudo, eu percebo sua atenção sobre a face amarga que esbanjo devido à
situação e ao silêncio que insiste em estar presente entre nossos corpos.
— Eu liguei. — rapidamente, olho para ele. — Fiz isso assim que
acordei, por conta do fuso horário.
— E então?
— O número é de uma irmã da Barbara. Passamos poucos minutos
conversando.
— Que bom, Justin. — eu acabo sorrindo, quero que aquela bebê
fique bem, não importa a circunstância. — Nós podemos dar um jeito de levá-la
até lá. — me refiro à criança.
— Não, você não está entendendo. A irmã dela não quis nem saber da
criança. — minha respiração pesa, Justin me olha nos olhos esperando uma reação
mais intensa. — A relação entre as duas parece horrível.
— Como assim?
— Não que eu esteja indignado, porque depois do que aconteceu,
nada mais me surpreende. Só que eu não esperava por isso.
— Mas e agora?
— O jeito é entregar a criança à Chantel, ela vai saber o que
fazer.
— Ficou nítido o quanto ela não sabe o que fazer, Justin.
— E o que você espera que façamos? Eu tentei, amor, mas não há
alternativas. A Barbara está enrolada até o pescoço, é um caso judicial e após
ela receber alta, terá que assumir as consequências de seus atos. Não foi
brincadeira aquilo. Ela poderia ter nos matado, poderia ter matado nosso filho.
Algo irá acontecer a ela.
— E a criança?
— Há pessoas que saberão o que fazer com ela. Se der sorte, o pai
aparecerá. Já fizemos demais por ela. Você a trouxe para nossa casa, a
amamentou, e isso nem é um problema nosso. Não temos obrigação alguma com essa
criança.
— Eu sei, Justin, mas... — ele me interrompe.
— Ela ficará bem, eu prometo a você. — Justin se levanta com
dificuldade e puxa meu corpo. Quando percebe minha agonia, sobe meu rosto com
seus dedos da mão esquerda. — Tire essa carinha triste, não gosto de vê-la
assim. — de repente, forço um sorriso, sobressaindo a parte que me sinto bem
por conta de seu cuidado. — A propósito, eu tenho uma coisa para falar.
— Fale.
— Eu estive conversando com minha mãe essa manhã enquanto você
ainda estava dormindo, ela me sugeriu algo e acho que será o melhor a se fazer.
— não sei o que ele pensa, mas permaneço em silêncio como se isso o
impulsionasse a continuar. — Acho que devemos nos mudar.
— Nos mudar? — meu tom soa assustado. — Mas moramos aqui há tantos
anos.
— Eu sei, eu sei. — o louro ri sem jeito. Logo mais, puxa a
cadeira e se senta, me fazendo sentar na seguinte outra vez. — Mas devido a
tudo que aconteceu, não acho que aqui seja o melhor lugar para estarmos. Eu sei
que talvez eu esteja pedindo muito, sei que você já abriu mão da sua família
quando deixamos Chicago, mas eu não me sinto bem em ficar nesse lugar. Muita
coisa mudou, muita coisa aconteceu.
— Eu entendo. — acaricio sua mão, reconfortando a insegurança que
havia em sua voz. — Também acho que devemos sair daqui depois de tudo, mas...
Para onde iremos?
— Pensei em... Ontário. — novamente, reparo a cautela em seu tom
vocal.
— Ontário? Canadá? — fluo perplexa. — Justin, você não acha que é
longe demais? Quero dizer, nós temos amigos aqui. Os padrinhos das garotas,
nossos afilhados...
— Eu sei, meu anjo, não é como se eu não tivesse pensado sobre
isso, mas veja bem. Lá é um lugar incrível, as crianças irão adorar, além de
que minha família toda estará por perto. Podemos recomeçar, podemos ter uma
nova vida. Só nós dois e nossos filhos. — um sorriso imenso é construído sobre
seus lábios. Observo um brilho forte apossar seus olhos dourados.
— Você sabe que eu te seguirei a qualquer lugar do mundo. — Justin
parece radiante por causa da minha resposta, contudo, me beija de forma terna.
— Se você acha que nossa felicidade está lá, por mim tudo bem. Contanto que
fiquemos juntos, nada mais importa.
Em disparada, logo quando obtenho uma sensação gostosa ao redor do
meu estômago, ouço um choro alto vir do andar acima, acudindo minha parte
centrada ao ponto de, automaticamente, me fazer levantar e afastar meu corpo do
de Justin. Logo em seguida, ele gargalha e segue o trajeto pelo qual ando.
— Fuinha! — meu marido reclama no segundo em que adentramos o
quarto. — O que ela tem? Chorou quase à noite inteira.
— O leite que Chantel a deu fez mal ao intestino dela. — digo.
Enquanto isso, eu movo as perninhas da criança constantemente, com o intuito de
fazer a dor passar. — Mas ela ficará bem. Eu já dei um remedinho e deve fazer
efeito em alguns minutos.
— Como você consegue? — Justin se senta ao meu lado na cama,
encara a bebê repousada na mesma. — Eu sei que posso estar sendo ignorante, mas
parece tão estranho para mim. Eu tenho consciência de que ela não tem culpa por
ter a mãe que tem, só que... A raiva que sinto pela Barbara é grande demais
para me deixar agir tão receptivamente com a filha dela.
— Oh, Justin, tire esse pensamento da sua mente. Essa criança é
uma benção comparada à mãe. É inocente, não a culpe por algo que ela não fez.
— Eu sei, me desculpe por ter a mente fechada em relação a isso. —
ele sorri e passa o indicador por cima da bochecha vermelha da bebê. — Ela é
uma graça, espero que seja criada por uma pessoa tão boa quanto você.
Ao respirar fundo, percebo que isso me atinge de algum modo,
contudo, me levanto e ando em direção à cômoda, recolhendo uma das mamadeiras
de Kenai.
— Bom, vou tirar um pouco de leite. Quando nos encontraremos?
— Por volta das sete. Realmente preciso conversar com o Charlie a
respeito da nossa situação. — Justin apoia sua perna na cama, a engessada. —
Pode demorar um pouco tudo isso, mas eu quero que aquela mulher receba o que
merece. Se não for possível ficar atrás das grades pelo resto da vida, que seja
internada o mais rápido, para a segurança de todos. Barbara é louca. Ela
precisa de ajuda profissional. Realmente acredito que ela vá ser hospitalizada.
— Você acredita mesmo que ela... Que ela não poderá mais andar?
— Só acreditarei quando eu ver com os meus próprios olhos, e para
ser franco, eu não quero vê-la tão cedo. Eu nem sei o que eu serei capaz de
fazer caso isso aconteça.
Ficamos alguns minutos em silêncio, tempo que aproveito para
retirar um pouco de leite e encher a mamadeira. Durante isso, Justin mima Kenai
que acordara neste meio período. Conversa com nosso bebê e o aninha em seus
braços largos.
— Amor? — ouço sua voz baixinha, é quase como se ele sentisse medo
do que dizer a seguir. — Eu posso te fazer uma pergunta?
— Claro. — dito isso, amarro meus cabelos e sinto o frio apossar
minha nuca de forma ágil.
— Venha cá, fique pertinho de mim. — observo suas mãos baterem com
leveza sobre suas pernas duras, ainda apoiadas na cama. Não demoro muito para
me repousar em seu corpo, evitando colocar peso o bastante para machucar a
perna ferida. — Eu sei que isso talvez não seja importante e que já faz muito
tempo, mas eu preciso saber como você está se sentindo.
— Você fala sobre o que aconteceu? Sobre o que a Barbara fez?
— Não, eu falo sobre o filho que perdemos. — por força do hábito,
minha boca vai se abrindo aos poucos. Eu não esperava que ele me interrogasse
sobre isso após tanto tempo.
— Justin, por que está me perguntando isso? Já faz mais de um ano.
— Eu sei, eu sei, mas... Eu passei muito tempo me culpando pelo
que aconteceu e achando que você também me culpava, e para ser honesto, eu acho
isso até hoje, porque me sinto um fracassado ao pensar que eu poderia ter
evitado. Eu sinto que isso me atrapalha, é como se houvesse um peso morto em
mim.
— Eu nunca culpei você por isso. — afirmo, sendo sincera em cada
palavra proferida. — Eu o vi, Justin, eu vi nosso filho morto. E naquele
momento eu quis morrer também. Mas isso já passou e não me machuca tanto quanto
antes. Acima de tudo, não posso culpá-lo por uma coisa que você não fez. Além
de que, apesar do ocorrido, caso isso não tivesse acontecido, não teríamos tido
o Kenai. Ele é a minha bênção, ele e nossas garotinhas.
— Sabe de uma coisa? Meu pai tinha toda razão. Ele sempre me olhou
devagar e com cuidado, mesmo quando todos a minha volta me olhavam rápido demais.
Uma vez ele disse que eu iria agradecê-lo por ter colocado você em minha vida,
fico triste por saber que não tive a oportunidade de fazer isso. Mas eu sou
grato. Você me veio como a luz do dia clareando o meu mundo. Você me mostra que
vale a pena viver.
— Eu amo você.
Ele sorri, é da minha forma favorita.
— Eu te amo mais.
Horas mais tarde.
07h10min PM.
— Ela ainda não chegou? — Justin questiona, uma vez que se senta
na cadeira mais próxima para poupar a dor na perna direita.
— Pelo que eu saiba, não. — aninho a criança em meus braços e
balanço o corpo, com o intuito de fazê-la dormir enquanto Chantel não aparece.
E no minuto em que resmungo, realmente cansada de tamanha demora, observo a
loura passar pela porta principal, que dá entrada à sala de espera em que
estamos há algum tempo.
— Me desculpem a demora, eu estava com muitos pacientes essa
tarde. Acabei me atrapalhando. — explica-se, retirando seus óculos de graus e
os parando dentro da bolsa cinza.
— Ela já tomou banho e tomou leite, mas eu trouxe uma mamadeira,
caso você não consiga fazer a Barbara amamentá-la esta noite. — durante os
minutos em que falo, Justin espicha suas mãos e entrega uma bolsa pequena à
mulher cuja feição mantém-se surpresa. — Ah, tem um remedinho aí dentro, é para
a dor intestinal que ela tem sentido nos últimos dias.
— Oh, claro. — ela estica seus braços e, com cuidado, entrego a
bebê sonolenta. Um peso toma conta do meu corpo assim que a afasto, assim que
afasto aquela criança do meu ser. — Obrigada, Selena. Nem sei como te agradecer
por ter ficado com ela, eu realmente precisava desse descanso. Cuidar de uma
criança é mais difícil do que parece e requer dedicação. Honestamente, ainda
não sei o que farei, será difícil tratar disso e da situação em que Barbara se
encontra agora, mas farei o possível para tudo ficar bem. E espero que, em
algum dia, Barbara reconheça a filha que tem.
— Eu também espero isso. — antes de depositar qualquer distância
entre mim e a mulher, encaro a bebê em seus braços e tento contar as inúmeras
pintinhas que existem em sua face clara e linda.
Chantel, ainda sorrindo de forma amigável, vira seu corpo e anda
em direção à porta mais propínqua. Com um certo embaraço, ela roda a maçaneta e
entra no quarto sem se dar ao trabalho de prender-se no próprio. Portanto,
encaro uma pequena região do cômodo seguinte, observando os movimentos lentos
que a loura faz enquanto se aproxima da única cama presente no cômodo.
"Tire essa coisa de perto de mim. Tire agora essa coisa
daqui, Chantel." — ouço seu grito histérico fluir pelo ambiente,
assustando-me numa sintonia incomum, sendo capaz de balançar minha pele através
das veias pulsantes.
"Barbara, essa é a sua filha!"
"Isso não é minha filha. Essa coisa não é minha. Eu não a
quero perto de mim."
Afastada, assisto Chantel balançar seu corpo no minuto em que a
criança chora devido ao susto levado, causado pelos gritos impiedosos de sua
mãe alterada. Não consigo evitar o momento em que olho para Justin e sinto
minha feição se desmanchar aos poucos. Assisto sua garganta engolir o seco e
não faço ideia daquilo que passa em sua mente. Então, o avisto se levantar, um
pouco desorientado, e caminhar mancando até mim. Seus braços me acolhem num
abraço amoroso, me fazendo sentir aquela sensação gostosa por estarmos tão
próximos.
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — sua voz, ainda presa
em um sussurro melancólico, questiona-me com uma pontada de medo. Eu, uma vez
encolhida em seu corpo e sentindo as batidas fortes de seu coração, apenas
balanço a cabeça. — Eu só quero que você seja feliz. Faço qualquer coisa por
isso.
Não tenho a chance de respondê-lo e confesso que talvez não
soubesse como fazer isso. Apenas sinto aquela sensação de conforto voltar a
fazer parte de mim quando seus lábios tocam os meus. Cada parte de mim pertence
a ele e cada parte dele pertence a mim. Simples e fácil.
A partir do momento em que observo Chantel deixar o quarto com sua
comum feição desolada, apoio minhas mãos no tórax do meu marido e dou alguns passos
até a estatura rígida e incrédula da mulher.
— Me dê. — embora pareça rude o suficiente para que ela queira
afastar-se se mim, peço de forma culta e gentil. — Eu a quero. Para mim. —
pausadamente, digo. Os olhos pardos de Chantel se dilatam, provavelmente
confusos sobre minha subjeção. — Nós vamos ficar com ela.
Sinto as mãos de Justin serem repousadas em cada um dos meus
ombros. Uma base de conforto, assim digamos.
— Vocês a querem? — sua voz rouca treme, quase intimidada.
— Sim. — dessa vez, o louro por trás quem responde à confusão
explícita da mulher pouco distante.
Chantel olha para a pequena criança em seus braços e hesita um
pouco. Sinto meu coração bater fortemente ao vê-la se inclinar sorrindo.
— Estou fazendo isso, pois realmente não posso ficar com essa
criança. Ela ainda não foi registrada, não tem um pai e a mãe está sendo
incapaz de cuidar dela. Tanto fisicamente, quanto emocionalmente. — eu sorrio,
encarando a bebê já em meu colo. Ela não chora mais. — Sei que vocês cuidarão
bem dela.
— Eu queria poder vê-la. — refiro-me à Barbara e ambos os
presentes sabem disso.
— Selena, talvez não seja uma boa ideia. — Justin avisa, tornando
a apoiar-se em mim.
— Eu preciso disso. Preciso falar tudo aquilo que eu quero que ela
ouça de mim.
Justin volta a pegar a bolsa amarela de Chantel e quando eu o vejo
se aproximar da porta, parando seu corpo no batente esbranquiçado, ando e passo
por ele, sentindo o cheiro forte de metanfetamina apossar minhas narinas e
escorrer pela minha pele aquecida.
Seus olhos azuis param em minha estatura próxima à cama. Por isso,
firmo a criança em meus braços e olho a dilatação de suas pupilas crescer,
demonstrando o impacto que minha presença causou a si.
— O que você está fazendo aqui? — quase não reconheci sua voz, a
verdade é que mal consigo perceber que essa é mesmo a mulher com a qual mantive
uma inimizade. Hoje seu rosto se encontra tão afetado pelo acidente. Aquela
beleza húngara parece ter acabado, tornando-se apenas mínimos resíduos. — Veio
esfregar sua felicidade na minha cara? Veio rir de mim? — ela eleva o tom
vocal, quase conseguindo gritar.
— Não, eu não vim aqui para isso. — aos poucos, analiso seu corpo
com inúmeras partes enfaixadas. As pernas se encontram imóveis, realmente
evidentes à deficiência causada.
— Então, veio fazer seu papel de mocinha e me desculpar por tudo
que fiz? — noto o tom sarcástico, logo sua risada afirma a parte irônica que
fora criada pela arrogância.
— Não, Barbara. Eu não vim aqui para desculpar você. Quem perdoa
compreende e dessa vez eu não sei como fazer isso. Passei muito tempo tentando
entender o porquê de todo esse ódio que você sente de mim e cheguei à conclusão
de que eu não tenho que me sentir culpada por isso.
— Você tomou de mim o que é meu por direito. — um choro imprevisível
aparenta querer ser esboçado. — Você tomou o meu filho de mim. — embora eu
segure sua bebê, sei que ela refere-se ao Kenai.
— Realmente espero que algum dia você fique bem, e que consiga
perdoar a si mesma por estar abrindo mão de algo tão valioso. — novamente,
encaro a criança em meus braços. — Eu ficarei com ela. É minha, agora. E ela
será muito boa. Eu darei a ela todo o amor que eu puder e todos os dias serão
divertidos.
— Suma daqui, vá embora e leve essa coisa com você. — outra vez,
ouço sua histeria ser protestada. — Ainda destruirei a sua vida, Selena.
— É triste ver que mesmo depois de tudo, você continua suprindo
todo esse ódio por mim. — concluo, sem pestanejar. — Tenha uma boa vida.
Agora melhor, dou alguns passos para trás e logo giro todo o meu
corpo, andando até a porta aberta, me aproximando do meu marido. Enquanto isso,
ouço as ameaças de Barbara e seus gritos alterados, demonstrando o ódio que
sente por mim, chorando e se lamentando por toda essa droga que anda
acontecendo.
[...]
Apoio a bandeja prateada sobre a mesa central da sala-de-estar,
sentindo a serenidade no olhar ameno de Charlie, uma vez que este, agradecendo
pela gentileza, eleva uma das xícaras aos seus lábios volumosos. Contudo, torno
a me sentar ao lado de Justin, repousando minha mão em sua perna como forma de
conforto entre ambos.
— Então, vocês querem ficar com a criança? — o rapaz reveza seu
olhar esverdeado entre mim e o louro, nos deixando prolongar uma atenção
monótona.
— Queremos. — a voz de Justin soa com cautela, apesar do clima um
pouco intenso.
— Bom, você sabe que isso não é uma coisa simples, Justin. Vocês
não podem pegar uma criança, registrá-la e simplesmente dizer que ela é de
vocês. Passarão por uma psicóloga, assistente social e juiz. O caso da Barbara
é relativo, mas não há dúvidas de que ela será hospitalizada. Seu diagnóstico,
pelo que vi, não é o de uma pessoa mentalmente sensata. — Charlie explica,
agora encarando alguns papéis. — Mas isso não será um problema. Não será
difícil convencer o juiz de que ela é incapaz de cuidar de uma criança, visto
que a indivídua se recusa a segurar a própria filha. Por outro lado, vocês
terão que provar que são capazes de adotar uma criança, não só financeiramente,
porém emocionalmente também. Isso pode demorar semanas.
— Não há problema algum nisso. — depois de minutos, falo algo. —
Precisamos de tempo para resolvermos o que temos aqui até irmos embora.
— Pretendem se mudar? — o homem interroga, nos olhando por cima
dos óculos retangulares.
— Sim, não há condições de permanecermos aqui. — responde Justin,
finalmente dando um gole no café dócil que preparei. — Depois de tudo que
aconteceu, a melhor opção é irmos para um lugar mais afastado e seguro. Canadá
me parece uma boa opção.
— Isso pode ser ótimo para a adoção. Afastar a criança de tudo que
aconteceu, da mãe insana e dos atos dela. — ele avisa, rindo nasalmente. — Eu
acredito que será algo demorado, mas que pode ser muito bem resolvido. Vocês
têm uma condição de vida ótima e são bons pais. Além disso, a criança será
entregue à adoção de qualquer forma, caso não tenha um reconhecimento paterno.
Observamos Charlie se levantar, disposto a finalmente ir para
casa. Por isso, eu e Justin o acompanhamos até a porta, observando, por trás de
seu corpo rígido e exposto pela calma, o carro escuro de Ryan parar em nossa
garagem. Nos despedimos do advogado enquanto aguardamos nossas garotas descerem
do veículo pouco distante.
— Mamãe, papai, foi muito legal. — diz Sky, alegre pelo passeio
que fizera ao parque de diversões.
— A Hope amou, amou muito. — celebra a menorzinha, sendo guiada
por Ryan, este segura a mãozinha fina de minha filha.
— Que bom que se divertiram. — no momento em que falo, pego um dos
gêmeos quando avisto seus bracinhos cheios serem esticados em minha direção,
clamando por colo. — Oi, pequeno Ash! Como você está pesado. — por conta da
careta que faço, o garotinho solta uma risada histérica. Ao me erguer um pouco,
beijo a bochecha de Riley, ela sempre me pareceu mais acanhada.
O casal adentrou quando nos afastamos da porta principal. Ryan
apoiou uma manta sobre o chão, ao lado de um dos sofás e colocou os gêmeos,
espalhando alguns brinquedos ao redor de seus corpinhos cheios.
— Onde está ela? — pergunta a loura, enquanto encaramos Sky
brincar com os bebês.
— Lá em cima. — giro meus calcanhares e ando com calma, no intuito
de alcançar o piso acima. Sei que Ashley acompanha o trajeto pelo qual caminho.
E quando adentramos no quarto de Kenai, a loura corre na direção do berço
centralizado, ela encara ambos os bebezinhos adormecidos por cima do colchão,
sob ambas as mantas brancas.
— Ela é uma gracinha. — sua voz soa bem baixa, evitando acordá-los
de seu sono bom. — Ficarão mesmo com ela?
— Bom, se tudo der certo, sim. — enquanto isso, aliso o rostinho
de Kenai com a fina espessura do meu indicador. — Eu me apaixonei por ela no
momento em que a vi. Estou feliz por Justin estar fazendo isso por mim, eu sei
que é estranho para ele.
— Seria estranho para qualquer um, até mesmo para mim. Mas você
tem razão, a criança não tem nada a ver com isso e agora ela não tem para onde
ir. E se você se sente bem fazendo isso, não há por que abrir mão. — Ashley
abre um lindo sorriso e me abraça, ainda encarando os bebês adormecidos. —
Realmente vão se mudar? O que será de mim sem minha melhor amiga?
— Eu também não sei o que será de mim sem você, nunca ficamos
tanto tempo distantes uma da outra.
— Me sentirei incompleta. — afasto nossos corpos apenas para
conseguir encará-la nos olhos. — Promete que sempre manterá contato e nos
visitará todo ano? Você sabe, eu sou casada com um fotógrafo e trabalho numa
joalheria, viajar para fora do país todo ano não está nas minhas condições.
— É claro que eu voltarei aqui. E, também, não vamos por agora.
Precisamos resolver algumas coisas e isso pode demorar um pouco.
— Eu sei, mas... Desde que nos conhecemos, nunca mais ficamos sem
uma a outra. Vai ser estranho. — novamente sinto seus braços me apertarem de
forma icônica, depositando o carinho que Ashley normalmente esconde das pessoas
por medo de parecer fraca.
Justin Bieber POV.
Alguns dias depois.
05h00min PM. — Sábado.
Devido ao seu choro alto e constante, retiro-a do carrinho e
aninho seu corpo ao meu, sentindo seus músculos se reprimirem e a inquietude
cessar por conta do carinho que compartilho. Portanto, os rapazes riem de
maneira acelerada, brincando, logo em seguida, com a criança em meus braços
cujos olhos tomam um brilho intenso quando encarados de maneira mais profunda.
— Por que está com ela? — a voz amarga e irônica de Chaz desloca
cada parte do meu cérebro daquele devaneio insignificante, e assim, tenho a
oportunidade de olhar para sua pele oleada.
— Selena acha que eu devo me acostumar com ela. — por um minuto,
me perco na música infantil que soa através do imenso terreno recheado por crianças
aleatórias. — É um pouco estranho, mas até que ela se comporta bem.
— É um bebê. — dita Jaden, fazendo cara de poucos amigos. — E é um
amorzinho. — contudo, observo seus dedos se expandirem sobre o rosto sereno da
criança, causando-a uma atenção exagerada. — Ela aparece hipnotizada por nós.
— É tudo uma novidade para ela. — Ryan conserta Riley em seu
corpo. — Olhe o bebê, querida. — a criaturinhas em seu colo solta uma risada
histérica e bate palmas, feliz por ter visto o que viu. — Qual o nome dela?
— Sei lá. — calmamente, falo, percebendo a indignação nas feições
de meus amigos. — Ela ainda não foi registrada, e ainda não temos a adoção
completa. Estamos lidando com isso e até resolvermos tudo, ela é chamada de
Fuinha.
— Coitada! — profere Chris, bebericando sua cerveja.
— Qual é? — indignado, questiono. — É fofo.
— É um bicho. — ele responde, encarando algumas mulheres perto da
máquina de algodão doce. — Pelo visto, Ashley conhece muita gente bonita. — o
rapaz debochada, logo mais, move sua língua sobre os lábios úmidos devido ao
álcool usufruído.
— Pois é, ela as conheceu na creche em que os Rosinhas ficam.
Todas têm filhos. — Ryan avisa, dando atenção à pequena Riley.
— Não vejo problema algum. — Christian, com uma pontada de malícia
em sua voz, responde como quem não quer nada. De repente, nós o vemos
levantar-se e repousar o copo largo no balcão.
— Não vá passar essa vergonha, cara. — Chaz implora quando imagina
o que o amigo tem em mente. Porém, de imediato, Chris se afasta, caminhando na
direção das louras há poucos metros distantes. — Tarde demais.
— Papai, a Hope pote
pegar a Fuinha? — a moreninha junta suas mãos num gesto de súplica, contudo,
dobra os lábios e sorri com cautela.
— Você terá muito cuidado? — enquanto pergunto, Hope se senta ao meu
lado durante os segundos que gasta para mover a cabeça concordando com o que
fora dito.
— A Hope terá, terá muito. — após rir, repouso a criança em seu
corpo com uma proporção de peso mínimo. Seus olhos se abaixam com a intenção de
encararem o bebê envolvido em seu colo. — Ela é muito levinha, papai. O Kenai
também.
— Eles são pequenininhos ainda. — falo, e algo arranca minha
atenção. Ao subir meu rosto, observo Selena com nosso bebê nos braços enquanto
conversa com um homem.
— Se controla. — Jaden pede ao reparar a região que rouba meu
critério.
— Tudo bem, eu estou legal. — minha voz soa monótona, mas sincera,
independe da circunstância. — Agora me dê, querida. Vá brincar com sua irmã. —
Hope concorda num solavanco e eu seguro Fuinha com mais intensidade, ainda
percebendo-a acordada no meio de tanta euforia.
— Vamos cantar parabéns, amor? — a voz de Ashley soa por trás de
nossos corpos largados no sofá. Entretanto, reclamamos, por alguns instantes,
sobre sua recepção repentina. — Eu já estou exausta.
— Tudo bem. — Ryan firma a pequena Riley em seus braços e, num
impulso forte, se afasta do estofado, indo na direção em que Ashley anda.
Após alguns minutos, observo Selena se despedir do rapaz e girar
seu corpo. Não demora muito para que ela caminhe pela região espaçosa com o
intuito de se aproximar do local em que me encontro, uma vez largado desde a
chegada. Seu sorriso parece radiante e pouco comum, o que faz algo aquecer
minha alma e me fazer perceber o quanto ela está feliz.
— Oi, rapazes. — sua voz alegre se intensifica pelo pequeno
espaço.
— Sel! — a dupla responde ao mesmo tempo, uma vez distraídos por
conta da movimentação dentro da casa de Ryan.
Depois de se sentar, Selena brinca com a criança em meu colo,
ainda que outra esteja apoiada em seus braços. Enquanto isso, ela a amamenta,
por mais que isso possa me deixar desconfortável quando feito ao redor de
tantas pessoas.
— Então? — não preciso ser direto, ela entende a curiosidade que
arrebata meus pensamentos.
— Aquele é o Davi. — agradeço por Selena me conhecer como a palma
de sua mão e, na maioria das vezes, não agir de forma despercebida. — Ele
estava perguntando qual o segredo de manter um casamento. — contudo, solto uma
risada e balanço a cabeça.
— Bom, se a mulher dele for tão boa quanto a minha... —
parcialmente irônico, conto vantagem.
— Ah, a mulher eu já não sei, mas o marido parece que não. —
automaticamente arregalo meus olhos e observo a expressão risonha de Selena
apossar a situação.
Por um instante, agradeço por não ter ido e criado uma cena
hostil, sem qualquer tipo de necessidade.
"Cantar parabéns. Venham cantar parabéns!"
Semanas depois.
09h20min AM. — Quinta-feira.
— Parem de gritar, parem agora. — Selena exige, agora descendo as
escadas principais. Notoriamente, pressiona as têmporas com ambas as mãos. —
Vocês não podem brincar sem fazer tanto barulho?
— Deixe de ser rabugenta, mulher. — no momento em que digo,
observo sua feição se desmanchar por contato do que lhe foi chamado. Porém,
contudo, de forma ágil, corro em sua direção e recolho seu corpo esbelto com
facilidade, movendo meus dedos sobre sua pele aquecida e criando involuntárias
cócegas. A risada de Selena soa alta, tão alta que é capaz de arrancar gritos
histéricos das garotas que, neste momento, pulam de felicidade.
Meu corpo só é paralisado quando o barulho da campainha soa pela
região em que não encontramos. Aos poucos, nossos risos cessam e recebem a
companhia de expressões surpresas.
Quando abro a porta, sem rodeios ou cerimônias, observo Charlie
retirar seus óculos escuros e abrir um sorriso imenso, capaz de iluminar toda a
minha feição assustada devido a sua visita inusitada.
— Bom dia, Justin. — o rapaz diz, pressionando alguns papéis em
ambas as mãos. — Desculpe vir sem avisar, mas eu já estava por perto e não pude
deixar passar essa oportunidade.
— Sem problemas.
— Aqui está. — contudo, ele estica suas mãos e me entrega os
envelopes que antes eram pressionados. — Nos falamos depois.
Imediatamente, Charlie vira seu corpo e caminha na direção de sua
Mercedes estacionada ao lado das lixeiras em alinhamentos. Sinto o calor da
respiração de Selena fluir através do meu corpo, me fazendo perceber sua
presença por trás de mim, ainda quieto e estável.
— O que foi? O que ele queria? — ela pergunta, com a curiosidade
fixa em seus olhos pardos.
— Vamos ver agora.
Ao fechar a porta, ando até a sala outra vez, percebendo-a
desajeitada, com as almoçadas tacadas em cantos diferentes e brinquedos
espalhados pelo chão.
Cautelosamente, abro envelope e puxo a carta do mesmo, demorando
alguns segundos para processar tamanhas palavras e saciar meu corpo por conta
delas.
— Então?
— Bom, parece que a Fuinha definitivamente faz parte dessa
família. — ao dizer, observo o sorriso de Selena se alargar pelo rosto sereno.
As garotas se encaram enquanto balançam meus corpos. — Ela é nossa.
— A Fuinha vai ficar com a gente para toto o sempre, papai? — Hope interroga, olhando para o papel em
minhas mãos.
— Vai, meu anjo. — assim que respondo, sinto o corpo de Selena
pressionar o meu num abraço aconchegante e agradável. Ela fecha seus olhos, sei
disso por conta da repressão de seus músculos. Está feliz.
— A gente tem que pensar num nome. — a mulher fala, evidentemente
animada. — Ela precisa de um nome bem bonito.
— Deixa Fuinha mesmo. — no momento em que sugiro, pressinto a
indignação no rosto de minha mulher, irritada com o que ouvira. — É
brincadeira, calma.
— Ela tem cara te
Princesinha. — fala a menor, porém Sky balança sua cabeça discordando. — Mas a
Hope gosta, Sky.
— Nem pensar, Hope. — diz a loura. — Eu já sei um nome para ela.
[...]
— Parem de gritar, crianças. Não me façam passar essa vergonha. —
Ashley implora, tentando limpar a boca dos gêmeos. — Ryan, me dê uma ajudinha
aqui.
— Para quem é a lasanha? — o garçom questiona, enquanto segura a
bandeja com ambas as mãos.
Vanessa limpa os lábios de Austin, e logo em seguida, ajuda Ashley
com um dos bebês, já que Ryan se mantém ocupado debochando de Chris.
— É para os porquinhos. — ao dizer, Selena sorri e me encara, o
que me faz soltar uma risada após ver a expressão assustada do rapaz. Hope se
inclina e puxa o prato da bandeja, guiando-o até o chão, deixando com que a
comida fique exposta aos seus animaizinhos. — Obrigada! — o garçom balança a
cabeça e vira os calcanhares, andando em direção contrária.
— É a nossa última noite juntos e eu quero dizer que... — Jaden
começa, erguendo seu copo de cerveja e começando um brinde. — Foi ótimo
conhecer vocês. Só isso.
— Não estamos morrendo, Jay. — aviso-o, causando risadas nas
demais pessoas. — Só estamos nos mudando.
— Por quê? Não vão. — Chaz implora, quase se jogando em meus
braços. — Como eu vou viver sem minhas princesinhas? — seus olhos claros
encaram ambas as garotinhas atentas aos porquinhos, mas que rapidamente, após
perceberem tamanha atenção, encaram o rapaz aflito.
— A gente pote levar os patrinhos, mamãe? Eles vão sentir muita sautate e a Hope também. — a menor pede,
agora se sentando no colo de Selena. Sky repousa-se em minhas pernas, mas não
tirando a visão que tenho dos carrinhos ao lado. De ambos os bebês.
— Nós vamos visitar vocês, meus anjos. — argumenta Ryan, feliz
pelo que Hope dissera. — E vocês também virão nós visitar, não é mesmo?
— Aham. — Sky responde satisfeita, abraçando meu corpo e rindo
nasalmente. — Eu vou sentir muita saudade. Eu amo vocês.
— Aw! — murmura Ashley. — Nós também amamos vocês, querida.
Nós brindamos!
Eu perco horas a fio pensando e idealizando o que pudesse vir a
seguir quando, depois de todo esse divertimento, cada um fosse para um lado e
terminasse de viver aquilo. Foram incontáveis noites, cervejas, pizzas e
risadas. Eu não era mais um garoto, mas quando perto deles, era como voltar a
ter dezessete anos e novamente sentir aquela sensação icônica que só o colegial
era capaz de me proporcionar. E no fim, após aquela demorada despedida, cada um
foi para um lado, mas ela me seguiu. Poderia ser para o fim do mundo. Eles
riram e disseram "nos vemos depois", um depois que poderia demorar a
chegar, mas que também poderia estar mais próximo do que pensávamos. Ela segurou
minha mão e eu pensei "você não é a primeira pessoa que eu beijei, também
não é a primeira que eu abracei. Não foi a primeira pessoa que disse que me
amava e nem a primeira que me arrancou saudade, mas com certeza foi a única que
me mostrou como é bom amar. Foi a única que ficou."
Algum dia nós saberemos se o amor pode
mover uma montanha. Algum dia nós saberemos por que o céu é azul. Algum dia
você saberá que eu sou a única para você. — Someday We'll Know
ALO ALO! Provavelmente
postarei o epílogo no social spirit, e por precaução, terá cópias aqui no blog
também. Contudo, me adicionem lá @hyugaz, cliquem em “observar usuário” para
receberem a notificação do epílogo quando o mesmo for postado, uma vez que eu
não faço ideia de quando isso acontecerá.
Outra coisa, pelo que
parece há mesmo alguém me “perseguindo”, o que é triste, já que a pessoa supre
tanta inveja de mim que fora capaz de hackear meu twitter. Como se eu tivesse
me importado, coitada. De qualquer forma, eu tenho outro, me sigam lá, eu sigo
de volta @ittsbutler
Desculpem-me pela
demora. E como eu disse, terá uma continuação, então é só aguardar. Comentem
falando o que acharam. Beijão, amo vocês s2